sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Feliz (e desafiador) ano novo!


Queria escrever uma mensagem linda para ressaltar o quão maravilhoso e desafiador foi meu 2011. Mas foram tantos milhares de caracteres digitados ao longo deste ano que o teclado parece me implorar: “chega, Cláudio!”. E eu obedeço.

2011 se abriu para mim acompanhado de um desafio – ser editor de Política no Diarinho. Precisei superar minha inexperiência e a falta de conhecimento desta área, onde não sabia nem o nome do presidente da câmara, menos ainda das lideranças locais. Juro que lutei a cada dia para que minhas dificuldades não pudessem ser percebidas pelos leitores.
E encerro este ano com um super sorriso. Um sorriso de “bem-vindo, 2012!” – mais um ano que já nasce (para mim) aliado a um monte de desafios e, novamente, vou lutar para encará-los a cada dia. E sigo... Para dias cada vez melhores (e mais desafiadores)! Que todos tenham um ano tão prazeroso quanto será o meu. E vamos felizes ao encontro das novidades.

FELIZ ANO NOVO!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Reportagem sobre os 32 anos da Novembrada


30 DE NOVEMBRO DE 1979

O dia em que SC encarou a ditadura militar

 

32 anos depois, personagens da Novembrada revivem a data histórica

nas páginas do DIARINHO

 

 

Texto: Cláudio Eduardo 

Reportagem publicada no Jornal DIARINHO, em 30/11/2011

 


A ditadura militar calava. Ao final da década de 1970, ainda sob a fama dos “Anos de Chumbo”, a possibilidade de um presidente ser rechaçado em público beirava o insano. Com a certeza de receber sorrisos, mesmo que descontentes, João Figueiredo veio para Santa Catarina. O roteiro do general que comandava o país incluía visitas e homenagens. Ao lado do governador Jorge Bornhausen, o presidente começaria a saga por Florianópolis na busca por aplausos. Entretanto, não foi o que recebeu naquele 30 de novembro de 1979.
O manifesto organizado por um grupo de estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) se somou ao descontentamento do povo. Todos estavam fartos, cansados da liberdade de expressão estrangulada e dos preços que aumentavam descontroladamente. A Novembrada libertou o grito de “basta” entalado na garganta dos milhões de brasileiros descontentes com o regime militar.

Jorge Bornhausen e Esperidião Amin (dois políticos da Arena, na época) recepcionaram o presi­dente. Há quem atribua à dupla a tentativa de maquiar o clima hos­til que predominava na cidade. No entanto, Amin desmente esta tese. Ao contrário, garante que alertou para a possibilidade de manifesta­ções. “Em função das circunstân­cias sociais, econômicas – inflação e carestia –, previ que iria aconte­cer algum protesto, julgando que o clima festivo que se pretendia dar à visita estava dissociado da realida­de”, comenta.
Em 1979, Amin era deputado federal e secretário estadual dos Transportes e Obras. Ele diz que, na noite de véspera, durante um jantar com Marco Antônio Kram­mer, secretário de imprensa da Presidência da República, alertou sobre a possibilidade do manifes­to e que jornalistas presentes no evento foram testemunhas disso. O alerta de Amin pode ter diminuído o fator surpresa do ato. Mas a par­ticipação maciça dos jovens deve ter deixado descrente parte do staff do governo. “As reações foram di­versas. Prefiro não comentar a dos outros. A minha foi de espanto pe­las dimensões e prolongamentos do episódio”, recorda.
Político experiente, Amin – que hoje é deputado federal pelo PP – já enxerga o evento de forma mais amadurecida. “Minhas impressões sobre a Novembrada têm evoluído ao longo do tempo. Na época, com 31 anos de idade, mesmo já tendo experiência política e administra­tiva, o episódio tinha um cunho romântico. Hoje percebo que fez parte do ciclo histórico que vive­mos”, salienta. Além disso, Amin assegura que não houve qualquer precedente no país. “Foi o primeiro grande protesto popular que o Bra­sil daqueles anos testemunhou. No Brasil inteiro espalharam-se avisos do tipo ‘catarina que é macho!’, inclusive em parachoques de cami­nhão”, lembra o deputado.
Em entrevista a uma emissora de televisão local logo após o protesto, Amin afirmou que o ato, além, de previsível, era legítimo. Ele conta que, pela posição que tinha no go­verno, a fala caiu feito uma bomba. “Tenho muito orgulho de ter man­tido minha postura. Coloquei o cargo de secretário à disposição do governador e fui indicado para ser testemunha de defesa dos estudantes que foram detidos, na época. Meu depoimento na Auditoria Militar, em Curiti­ba, os ajudou decisivamente, especialmente porque contex­tualizei o protesto referindo a situação política, econômica e social a uma decisão autoritá­ria do governo federal”, relata. A tal decisão autoritária foi colocar uma placa de homena­gem a Floriano Peixoto na pra­ça 15 de Novembro, mesmo sabendo o quanto é polêmica (ainda hoje!) a troca do nome Desterro por Florianópolis – para reverenciar o “Marechal de Ferro”.



“Foi o primeiro grande protesto popular que o Brasil daqueles anos testemunhou. No Brasil inteiro espalharam-se avisos do tipo ‘catarina que é macho!’, inclusive em parachoques de caminhão”
Esperidião Amin


Organizador do manifesto recebe voz de prisão por chamar prefeito da capital de corrupto

Em 1979, Amilton Alexandre estu­dava Administração na UFSC. Hoje é jornalista, o popular Mosquito. Mas se a área de atuação não é a mesma de 32 anos atrás, o engajamento em questões políticas não mudou. Ele foi um dos organizadores da Novembrada. Amil­ton foi o responsável pela confecção de panfletos e faixas. “Sabíamos que já ti­nham ocorrido algumas manifestações contra o aumento da gasolina. Então resolvemos protestar também pedindo eleições e contra a situação de carestia da época. Era um movimento do tipo reivindicatório”, destaca.
Amilton foi um dos sete estudantes enquadrados e julgados pela Lei de Se­gurança Nacional. Ele foi preso no dia 30 de novembro. A prisão gerou uma série de outros manifestos nos dias seguintes. “Ficamos 10 dias presos. Recordo do primeiro dia, ainda na car­ceragem da polícia Federal, no bairro Estreito. Foram mais de 10 horas tran­cado num cubículo, incomunicável”, lembra.
Na visão do jornalista, hoje prevale­ce o individualismo – o que minimiza as chances de qualquer manifestação semelhante à que foi a Novembrada. “Os movimentos políticos migraram para as redes sociais. Tem muito estudante preocupado com o meio ambiente e com a desigualdade so­cial. Mas falta unidade e lideranças que assumam a dianteira dos mo­vimentos estudantis”, avalia. Três décadas depois do protesto, o cená­rio político mudou. “Hoje vivemos num regime democrático. Apesar de algumas distorções, existe liberdade política”, conclui.
História repetida
Aos 52 anos, Amilton não perdeu o ímpeto. Na última sexta-feira, ele teve a prisão decretada. Só não foi para a cadeia no mesmo instan­te porque a prisão foi relaxada na mesma hora, por ser considerado um crime de efeito menor. O crime: chamar o prefeito de Florianópolis, Dário Berger (PMDB), de corrupto. “Foi só um circo que os caras mon­taram. O promotor perguntou se eu confirmava que o Dário era corrupto e eu disse que sim. Aí o promotor pediu a prisão em flagrante. Como o processo em que ele foi condenado não está transitado em julgado, eles não consideram que ele seja cor­rupto. O que é um absurdo”, opina. Mesmo assim, Amilton não preten­de se calar.



Adolescentes de Itajaí acabaram presos durante as manifestações na capital
De curiosos, quatro estudantes de 17 anos foram parar num cam­burão. E depois, nos autos da his­tória catarinense. Os adolescentes tinham deixado Itajaí fazia duas semanas. Eles se hospedaram numa pensão no centro de Floria­nópolis para ficar no período em que fariam um cursinho pré-ves­tibular. Todos queriam entrar na UFSC. Aristides Umbelino da Cos­ta Júnior era um deles. “Naquele dia 30 fomos para a aula, mas nos dispensaram por causa da vinda do presidente. Então fui com um amigo lá ver. E foi isso, só olha­mos o tumulto”, conta.
Mas com a prisão dos sete estu­dantes – o grupo em que Amilton Alexandre estava incluído e do qual Esperidião Amin foi teste­munha de defesa – aconteceram protestos depois daquele último dia de novembro. Foi num destes manifestos posteriores que Aristi­des e os outros três estudantes de Itajaí foram parar numa saleta do DOPS – o temido Departamento de Ordem Política e Social. Hoje com 49 anos, ele ainda recorda os detalhes, desde a prisão até a li­berdade horas depois.
“Vimos na televisão que estava acontecendo mais um protesto. Já era noite, mesmo assim fomos dar uma olhada, porque adolescente não tem medo. Quando chega­mos, a praça já estava cercada. Tinha faixas caídas na escadaria da igreja matriz. Conseguimos uma brecha e passamos pela ca­valaria. Queríamos ler o que es­tava escrito nas faixas largadas na escadaria”, conta. Assim que os quatro encostaram nas faixas, alguém gritou: “eles vão começar de novo!”. Não foi preciso gritar duas vezes. Jogaram os estudan­tes no camburão. A curiosidade custou caro.
Aristides lembra que a madru­gada que passaram no DOPS foi terrível. “Um policial pergun­tou quantos anos nós tínhamos. Depois disse que a gente tinha sorte por só termos 17 anos. Nós estávamos tremendo. Lá a gente ouvia gritos, era horrível”, ressal­ta. Ele disse que foi separado dos amigos. Cada um teria de explicar a situação, mas em depoimentos individuais. “Lembro da fatídica entrevista com o delegado. Uma sala escura, com luz na cabeça. Foi uma pressão psicológica ter­rível. Ele ficou cinco minutos em silêncio, apenas olhando pra mi­nha identidade, o que aumentava a pressão”. Antes mesmo de ouvir o ríspido “o que tu tava fazendo lá?”, Aristides já tremia.
“Apareceu o deputado Murilo Canto e outro do MDB pra de­fender a gente. Eles serviram de advogados para nós, que estáva­mos perdidos em Florianópolis. Depois de toda a pressão, nos soltaram durante a madruga­da”, relata. Aristides conta que, no dia seguinte, o nome deles estava estampado num jornal es­tadual. Em Itajaí, a notícia era repetida o tempo todo na rádio. “Quando voltei para Itajaí, no fim de semana, achei que iam me xingar. No final, o pessoal me parava na rua para parabeni­zar”, relembra.
Passado aquele período, Aris­tides acabou o cursinho e con­seguiu entrar para a mesma universidade daqueles que orga­nizaram os protestos. Ele se for­mou em Computação, chegou a trabalhar em departamentos do governo estadual – pondo fim à desconfiança de que seria perse­guido – e hoje é empresário em Itajaí. Da Novembrada ficaram as memórias. Mesmo que ele es­queça, o nome não será apagado da história recente: ele foi um dos milhares de jovens de Santa Catarina que romperam o silên­cio durante o regime militar.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Reportagem em série sobre doação de órgãos (3)


Último dia:
O trabalho de quem pede autorização da família para a captação de órgãos




Você é um doador?

Milene Aparecida Machado tem a difícil missão de abordar os familiares, minutos após a morte do possível doador de órgãos e tecidos. Aos 47 anos, ela é a enfermeira que coordena a Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes do Hospital Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí. “Procuro dar informações e apoio à família. Por mais que já faça esse trabalho há bastante tempo, sempre me coloco no lugar dos parentes”, comenta Milene. A frieza clínica só disfarça o quanto a enfermeira é emotiva. Mas, ela não se deixa abalar pelos sentimentos. Afinal, no momento trágico,
tem a missão de garantir a felicidade de quem aguarda na fila por um transplante. “Alguém que morre por falência cerebral pode salvar pelo menos oito pessoas”, destaca Milene.
Das 56 famílias que Milene abordou neste ano, 25 recusaram doar os órgãos. “O índice de pessoas que não autorizam, infelizmente, é muito alto”, afirma a enfermeira. Ela diz que a alta taxa de recusa se deve à esperança que as pessoas têm na cura. “Apesar do cérebro já estar morto, algumas pessoas acham que o paciente ainda está vivo. E, às vezes, é tarde para eu fazer a captação, os órgãos já estão comprometidos”, afirma Milene. Antes de se mudar para Itajaí, a enfermeira já trabalhava na mesma comissão, no Estado do Paraná. Por 15 anos ela lidou com transplantes. Há cinco anos, quando
começou no Marieta, ela passou a trabalhar apenas com a captação dos órgãos. “Troquei as salas de cirurgia pelo diálogo com familiares em momento tão delicado”, ressalta Milene.

Abordagens feitas em
Santa Catarina neste ano:

Notificações – 619
Doação – 256

58,64%
dos abordados no Estado
não autorizaram a doação de
órgãos e tecidos


Famílias negam a doação

Hoje, Milene só imagina a dor das pessoas que ela aborda. Entretanto, ela já provou da sensação de quem recebe a doação. “Meu primo sofreu um acidente e ficou cego. Para voltar a enxergar, estava na fila de transplante. No dia em que ele conseguiu voltar a ver,
percebi como o trabalho que eu faço muda a vida de uma pessoa”, conta, emocionada. Ao falar sobre o reconhecimento do ofício, Milene não demonstra tanto orgulho
quanto deveria. Mas, por dentro, deve se encher de satisfação pela tarefa diária frente ao programa de captação. “Quando trabalhamos no transplante, é normal que as pessoas agradeçam. No entanto, ganhar presentes de familiares que doaram órgãos é algo ainda mais gratificante”, comenta a enfermeira.
Hoje, 1.866 pessoas aguardam na fila pelo transplante em Santa Catarina. De acordo com Milene, se todas as famílias abordadas em Itajaí autorizassem a captação, em três anos a cidade conseguiria, sozinha, zerar a fila no Estado. “É fundamental que as pessoas falem com a família sobre a vontade de doar ou não os órgãos. Isso facilita a decisão na hora da morte e pode salvar vidas”, enfatiza Milene.
A solidariedade de um doador salvou a vida do aposentado Valmir Nunes. Ele esperava havia seis anos por um transplante de coração. É pouco provável que tenha sido Milene quem captou o órgão que foi transplantado em Nunes. No entanto, o gesto que ela repete com tanta frequência representa o bem que o aposentado de Tijucas recebeu: uma segunda chance para viver. E a vida continua.



Série publicada no fim de agosto do 2010 no jornal Notícias do Dia - Vale do Rio Tijucas e Costa Esmeralda. E publicada novamente no ND da Grande Florianópolis no início de setembro do mesmo ano.

Texto: Cláudio Eduardo
Fotos: Allex W. Farias

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Reportagem em série sobre doação de órgãos (2)


Segundo dia:
A história de um doador de órgãos que sabia que morreria nas estradas
 

Paixão por carros e pela vida
Luciano Casali sabia que morreria na estrada e, apesar de ser doador, só teve os rins retirados

Luciano Casali, morador de Nova Trento, viajou por todo o Brasil de carro. Mas, foi perto de casa que ele sofreu o acidente em que perdeu a vida. No ano passado, depois de perder o controle do veículo na rodovia SC-411, Casali ficou internado por uma semana no Hospital Celso Ramos, na Capital. Aos 34 anos, não resistiu. “Ele sabia que morreria na estrada, pois adorava andar de carro. E sempre comentava que, se em um acidente sobrasse algo inteiro, era para doar”, recorda a comerciante Adriana Casali, 33, irmã de Luciano. 
A família atendeu ao último desejo do único filho homem. No entanto, Adriana diz que foram retirados apenas os rins do irmão. “Não sei se por qual motivo, mas o Luciano foi enterrado com vários órgãos intactos. As partes que poderiam salvar outras vidas agora apodrecem no túmulo”, afirma a comerciante. Dirigindo um Ômega, Luciano destruiu um ponto de ônibus durante a madrugada de 18 de abril de 2009. Pai de dois filhos, Casali era apaixonado por automóveis. Ele trabalhava com negociação de veículos, por isso viajava tanto.
Na carteira de identidade de todos os membros da família Casali consta: “não-doador de órgãos e tecido”. Porém, todos são assumidamente doadores. “Tenho um primo que é médico e nos disse para colocar que não doávamos por questão de segurança. O Luciano, por exemplo, estava sempre nas estradas. Então, tínhamos medo que ele sofresse um acidente em algum lugar do Brasil em que não pudéssemos participar da decisão da doação de órgãos”, explica Adriana. Ela diz se orgulhar da atitude do irmão e garante que o exemplo será seguido por todos os membros da família. “Não entendo como há pessoas que preferem enterrar o corpo a doar. É uma forma de fazer uma última boa ação”, questiona a irmã de Luciano Casali. Com a decisão da família, ele passou de vítima a doador.



Sem controle, motoristas andam à vontade na 411

Quando o Corpo de Bombeiros recebe um chamado de acidente na SC-411, já sabem que deve ser algo grave. Osnildo Olávio Porto, subtenente da corporação em Tijucas, diz que a gravidade dos impactos se justifica pelo desrespeito ao limite de velocidade. “Ao longo da rodovia, no trecho que vai de Tijucas a Nova Trento, só existem três lombadas eletrônicas. No resto do trajeto, os motoristas estão livres para acelerar”, destaca Porto. Ele diz que a proibição dos redutores de velocidade, conhecidos como pardais, facilita a falta de controle.
Segundo o subtenente, sempre que acontece um acidente na SC-411, os bombeiros encaminham as vítimas ao hospital mais próximo. Depois, cabe ao médico que atende decidir se o paciente deve ser transferido para outra cidade. “Nosso compromisso é garantir a vida do acidentado. Lamentamos quando a pessoa morre no local e não podemos fazer mais nada para salvá-la”, afirma Porto.

No total, 1.866 pessoas aguardam transplantes em Santa Catarina

68,32%
esperam por tecidos,
principalmente córneas

31,67%
precisam de órgãos sólidos
(coração, pulmão, fígado, rim
e pâncreas)



Amanhã coloco terceiro (e último) dia da reportagem!


Série publicada no fim de agosto do 2010 no jornal Notícias do Dia - Vale do Rio Tijucas e Costa Esmeralda. E publicada novamente no ND da Grande Florianópolis no início de setembro do mesmo ano.

Texto: Cláudio Eduardo
Fotos: Allex W. Farias



terça-feira, 29 de novembro de 2011

Reportagem em série sobre doação de órgãos

Primeiro dia:
Das tragédias da SC-411 surge a vida através da doação de órgãos e tecidos


Da morte à vida

Somente um gesto de amor é capaz de transformar a tragédia em alegria. Aos 64 anos, Valmir Nunes é a prova viva disto. No peito dele bate um coração de outra pessoa. Há quase quatro anos o aposentado fez um transplante cardíaco. Ele não conhece a identidade ou história do Doador. A única coisa que sabe é a causa da morte: um acidente na Rodovia que liga os Municípios do Vale do Rio Tijucas, a SC-411. Da estrada, que acumula desgraça, Nunes recebeu uma segunda chance. Do ato de doação, o exemplo da solidariedade.

A Rodovia SC-411 não é temida à toa. Só este ano, no trecho que vai de Tijucas a Nova Trento, 14 mortes instântaneas foram registradas. Entretanto nas estatísticas de vítimas fatais não estão incluídos aqueles que foram levados ainda com vida ao Hospital. E são justamente essas pessoas que podem ser doadores de órgãos e tecidos. "A captação só pode ser feita em casos de morte assistida, ou seja, o paciente precisa estar internado", explica a coordenadora de enfermagem do Hospital São José de Tijucas, Maria Aparecida Roselindo.
De acordo com a enfermeira, nos casos de acidentes mais graves, como são os que ocorrem na SC-411, o paciente já chega morto no Hospital, ou precisa ser internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). "Como não temos UTI em Tijucas, encaminhamos o paciente para outras cidades, geralmente Florianópolis", destaca Maria Aparecida, justificando o motivo do Hospital São José não captar órgãos e tecidos. "A maioria das transferências de pacientes são para Florianópolis, pois lá estão os hospitais de referência em Traumatologia", afirma a coordenadora de Enfermagem. No entanto,o coração que Nunes recebeu em 2006 foi captado em outra cidade de Santa Catarina.


Depois de seis anos na angustiante fila de espera por um coração, Valmir Nunes recebeu o tão aguardado telefonema. "Quando me ligaram para eu ir às pressas para o Hospital porque tinham um coração novo para mim, fiquei feliz. Mas tentei não me empolgar muito, para não me decepcionar casonão desse certo", salienta o aposentado. O receio de Nunes é que ocorresse o mesmo que em Outubro de 2003. "Quando se precisa de uma doação, ficamos apegados à esperança. Há sete anos eu estava numa mesa de cirurgia para receber um novo coração. Mas não deu certo", recorda. Segundo o aposentado o médico cardiologista percebeu uma infecção no órgão que seria transplantado. Mais uma vez Nunes voltou para a Fila.
Com todos os motivos para desanimar, o aposentado que mora no bairro Universitário, em Tijucas, superou a fase difícil com muito bom humor. Hoje então, já com coração novo, ele tem motivos de sobra para comemorar. "Digo com toda a certeza que nasci de novo. Sei que é difícil para a família decidir pela doação dos órgãos no momento da perda, mas esse gesto salvou minha vida", ressalta Nunes. Pai de sete filhos, o aposentado conta que, antes do transplante, não conseguia andar três quadras. Hoje, Nunes circula de bicicleta pela cidade sem se cansar. Ele transborda vivacidade. "Quando eu morrer, podem retirar todo órgão que possa ser aproveitado para ajudar outra pessoa", retribui, dando sequência à mesma corrente do bem que lhe devolveu o dom da vida.




Amanhã coloco segundo dia da reportagem!


Série publicada no fim de agosto do 2010 no jornal Notícias do Dia - Vale do Rio Tijucas e Costa Esmeralda. E publicada novamente no ND da Grande Florianópolis no início de setembro do mesmo ano.

Texto: Cláudio Eduardo
Fotos: Allex W. Farias

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

QUERIDA MÃE ROSI...


A superação da perda de um filho através das cartas psicografadas

Antes de ler, deixe o ceticismo de lado. Ou você pode perder uma boa história!


Fotos: Cláudio Eduardo

Dois meses antes do julgamento do homem acusado de ter assassinado Rafael, a mãe dele já sabia o veredicto. O alerta veio do próprio filho de Rosivalda Rodrigues Mendonça, morto havia mais de sete anos. Entre as palavras de conforto, o jovem enviou a mensagem: “não se iludam com a justiça dos homens, entreguem seus corações à justiça divina – implacável com todos aqueles que contrariam a lei de amor”. O recado veio através de uma carta psicografada. E aquelas palavras se cumpriram. Em 31 de agosto deste ano, o policial militar acusado de ter assassinado Rafael por engano, durante uma confusão em frente ao porto de Itajaí em novembro de 2003, foi absolvido pelo tribunal do júri.

Primeiro a dor da perda, depois a luta por justiça e, por fim, o silêncio. Há anos, Rosi preferiu se calar. Sofria quieta. Todos imaginavam o que a morte de Rafael causara ao coração da mãe, mas já não ouviam mais as queixas da boca da dona de casa, hoje com 54 anos. Raramente ela compartilhava o sentimento com os outros dois filhos ou com o marido. No entanto, com a mesma discrição com que sofria, Rosi encontrava um pequeno conforto. Feito joias preciosas, nove cartas – de letras trêmulas, porém decifráveis – ficam trancadas a sete chaves.
A primeira mensagem de Rafael veio em abril de 2004, poucos meses depois que ele foi sepultado. Devoradora de livros, Rosi já tinha lido muitas obras sobre a doutrina espírita mesmo antes de perder o filho. Ela concordava que o melhor de uma pessoa não apodrecia no túmulo. Existe algo além. “Sempre tive essa noção do pós-morte, só não esperava que o Rafa fosse se manifestar tão rápido”, conta. Ela recorda que a primeira das cartas psicografadas foi escrita em um centro espírita que ela nem conhecia. Só ficou sabendo da existência do lugar quando foi informada que tinham uma mensagem de Rafael. E, como uma mãe desesperada por um contato com o filho que partiu, Rosi correu na mesma hora. Precisava ler e, quem sabe, aliviar a saudade que a estava sufocando.
“A maior surpresa foi o conteúdo. Já na primeira carta, ele pedia que nós perdoássemos. Ele não mencionou o que sofreu naquele dia e nem o que pensou”, comenta, se referindo ao dia da morte do filho. Rosi lembra que, desde a infância, Rafael tinha sensibilidade e afirmava ver espíritos. No entanto, o medo fazia com que ele tentasse driblar o dom. Justamente por saber da mediunidade, ela imaginava que ele entraria em contato com a família. Só que esperava que nas mensagens o filho explicasse como tinha se sentido no meio da confusão que acabou na morte repentina do jovem. Entretanto, esta incerteza do sentimento dele no dia em que foi assassinado vai permanecer. Em nenhuma das nove cartas, Rafael menciona a cena do crime. Ele parece ter superado.
“Nas mensagens fica claro que o Rafa está mais empenhado em nos consolar do que de falar daquele dia porque, ao que parece, pra ele aquilo não teria mais importância”, acredita a mãe. Às vésperas de completar oito anos da morte do filho – estudante universitário que, na época, tinha 20 anos – Rosi ainda se emociona ao remexer nas histórias. As fotos do filho espalhadas pela casa somente ilustram o que está escondido no coração da mãe: a presença de Rafael não enfraquece, ela lembra de cada dia das duas décadas em que conviveu com o jovem.

“O Rafa sempre bate na mesma tecla: ele não morreu,
não se acabou. A vida continua!”

Como qualquer pessoa desconfiada, Rosi também foi cética no início. Para acreditar que as cartas que chegavam até ela, assinadas pelo filho, eram realmente enviadas por ele, a dona de casa comparava a letra com os cadernos antigos que ainda guarda em uma pasta de recordações. “Tenho certeza que é ele. Independente do médium que escreve, a assinatura e o conteúdo são sempre iguais. O Rafa sempre bate na mesma tecla: ele não morreu, não se acabou. A vida continua!”, ressalta.
Apesar de ainda sofrer e não aceitar a morte do filho, Rosi tem noção do desejo dele. “Como vítima, ele aceitou e perdoou. Agora ele batalha pra que nós consigamos perdoar também”, destaca. Rosi recorda que Rafael sempre contava todos os detalhes do dia, quando chegava em casa. “Uma vez ele veio apavorado, porque tinha sido assaltado no banco e teve que entregar o malote da empresa. Ele estava desesperado porque apontaram uma arma. Então carrego essa angústia de querer saber como ele se sentiu naquele dia”, afirma a mãe.
Mesmo desejando ouvir do filho o que ele sentiu no dia da morte, Rosi sabe que a omissão nas cartas é sinal de que, realmente, o fato já foi superado pelo espírito dele. E ela, todos os dias, também luta para superar. Uma batalha por vez. A primeira luta é constante: a superação da saudade. E as cartas psicografadas são aliadas. “O contato ajudou muito. Se não tivesse recebido nenhuma mensagem, eu estaria muito pior do que estou hoje”, salienta a dona de casa, já arriscando sorrisos espontâneos entre uma história e outra.

Espíritos ditam as mensagens que são escritas pelos médiuns
Reportagem do DIARINHO participou de uma sessão do grupo de psicografia do Centro Espírita Allan Kardec, em Itajaí

 Fotos: Cláudio Eduardo

A sessão é fechada. Apenas os membros do grupo de psicografia do Centro Espírita Allan Kardec (Ceak) entram na sala. O ambiente é muito mais comum do que pressupõe o imaginário de quem não conhece a fundo a doutrina espírita. Foi o meu caso. Com a permissão do grupo, acompanho a reunião. Logo na entrada, percebo que as cadeiras já estão posicionadas ao redor de uma mesa. Ao longo da toalha branca, as pilhas de folhas limpas ficam distribuídas junto de canetas preparadas para o início da maratona de palavras.
São oito horas da noite quando os médiuns estão a postos. Sou convidado a sentar numa cadeira na ponta da mesa, ao lado do coordenador do grupo que tem duas importantes tarefas: observar os médiuns (para o caso de precisarem de algum tipo de auxílio) e fazer a oração inicial. Antes disso, colocam uma música ambiente, para que todos possam relaxar ao longo dos trabalhos e ajudar na concentração. As luzes são apagadas e apenas uma lâmpada permanece acessa. A sala fica num tom alaranjado cor de alvorada. Não demora um minuto para que o primeiro médium comece a escrever. Como num efeito dominó, a pessoa que senta ao lado também começa os rabiscos ininterruptos. Em poucos minutos, a música ambiente se mistura ao som das canetas, que deslizam apressadas no papel.
Os médiuns escrevem numa velocidade superior ao raciocínio. Não há tempo para pensar no que rabiscar. As palavras vão para o papel sem interrupções. Depois de 45 minutos de psicografia, o coordenador do grupo anuncia o fim do trabalho. Uma última oração quebra o elo entre os médiuns e o mundo espiritual. E as luzes voltam a ser acesas.
Com as cartas já escritas, é hora de ler as mensagens. Naquela noite em que acompanho o grupo, 10 cartas foram psicografadas e os médiuns leem uma por uma, em voz alta. Duas delas, em particular, me chamaram a atenção. A primeira foi ditada por um senhor da cidade de Biguaçu. Antes de ler, o médium conta que o espírito estava muito emocionado – era a primeira vez que ele conseguia se comunicar. Na carta, a descrição de como morreu e o pedido de perdão à família. O espírito conta que era alcoólatra e que morreu afogado, há menos de 10 anos, por conta do vício. Em outra carta, uma neta tenta passar o conforto para a avó que a criou depois que os pais tinham falecido num acidente de carro. A jovem pede que a avó supere a perda e enfatiza a necessidade de largar os preconceitos e aceitar que existe a vida após a morte. Ouvindo as mensagens, tão detalhadas, penso na importância que teria uma carta como aquela para a família. Mas não há como garantir que as mensagens chegarão aos respectivos destinos.

Para quem não sabe...

O que é o espiritismo?

Também conhecido por Doutrina Espírita ou Kardecismo, foi codificado na metade do século 19 pelo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, que adotou o pseudônimo de “Allan Kardec”. É uma doutrina que prega o aperfeiçoamento moral do homem e que acredita na possibilidade de comunicação com os espíritos através médiuns.

O que são médiuns?

São aquelas pessoas com capacidade para se comunicar com os espíritos. Uma das tantas formas de comunicação é a psicografia.

O que é psicografia?

É a capacidade atribuída a certos médiuns de escrever mensagens ditadas por espíritos.

Centros Espíritas da região

C.E. Allan Kardec - 12/08/1955
Rua Joaquim Lopes Correia, 246
Vila Operária - Itajaí

C.E. Jesus Nazareno
Rua Laureano José de Almeida, 46
São João - Itajaí

C. E. Anjo da Guarda
Rua XV de Novembro, 405
Centro - Itajaí

C.E. Jesus de Nazaré
Rua Lauro Ramos, 130
Santa Catarina - Barra Velha

C.E. O Bom Pastor
Rua Itamar José da Luz, 364
Centro – Navegantes

C.E. Luz do Caminho
Rua: Jahiel Moacir Tavares, 785
Armação - Penha

C. E. Trabalhadores da Última Hora
Rua Jovino Manoel Francisco, 180
Armação - Penha

C.E. Allan Kardec
Rua Joaquim das Neves, 41
Centro - Piçarras

C.E. Chico Xavier
Rua 236, nº 390
Meia Praia - Itapema

Sociedade Espírita Joanna de Ângelis
Rua 800 – D, nº 111
Casa Branca - Itapema


Nem todas as cartas psicografadas chegam ao destino

Há 19 anos, Luciano Américo Leite, 46, frequenta a doutrina espírita – sempre no mesmo centro. Neste período, o coordenador do Departamento de Mediunidade do Ceak percebe que houve uma evolução no tratamento aos espíritas, mas reconhece que ainda falta informação para que as pessoas rompam os preconceitos. “A falta de conhecimento é o que causa a descrença, a dúvida. Mas já dá para dizer que a realidade está melhorando. Antigamente só faltava jogarem pedras na casa dos espíritas. Hoje essa reação diminuiu”, avalia. Luciano conta que o grupo especificamente para a psicografia no Ceak ainda é recente, tem menos de um ano. Antes, as cartas chegavam nas reuniões de mediunidade. Mas, com uma equipe reunida uma vez por semana só para esta função, a manifestação escrita dos espíritos aumentou.
“A finalidade da psicografia é levar o consolo e a fé, além de confirmar que há vida além do túmulo”, explica. O coordenador conta que o grande objetivo do grupo é aprimorar ainda mais o trabalho para que eles possam abrir as sessões para o público. Além disso, ele destaca um outro grande desejo: que as cartas encontrem os destinatários. “Nosso fim é que as mensagens cheguem às pessoas. Eu suponho que em algum momento conseguiremos que as cartas venham mais completas, com endereço, por exemplo”, conclui.
Hoje, na tentativa de encontrar as pessoas para quem os espíritos deixaram mensagens, o centro conta com uma página na internet (o www.ceakitajai.com.br), onde é possível ver a lista com o nome de quem se manifestou através da psicografia. Das centenas de cartas que os médiuns do Ceak escreveram, poucas chegaram às famílias. Uma das que encontraram o destinatário foi justamente a que foi enviada por Rafael, antes do julgamento.


Querida Mãe Rosi,

Imensa alegria invade meu ser nesta noite especial, que Deus permitiu nosso reencontro após longo período de refúgio e aprendizado. Encontram-se amados em momento que consideram decisivo para vossas vidas.
Não se iludam com a justiça dos homens, entreguem seus corações à justiça divina – implacável com todos aqueles que contrariam a lei de amor que rege o universo e nossas vidas. Lembre-se que continuo vivo e qualquer resultado não alterará nossas existências.
Somos unidos pelos laços de amor, que nos uniu no momento de nosso reencontro no mundo material.
A saudade é e sempre será grande, mas o trabalho a que me dedico, que é de muito amor, me ajuda a superar a distância que nos separa. Nesse período tivemos algumas oportunidades de nos abraçarmos e nos sentirmos juntos novamente, mas é preciso superar os sentimentos de incompreensão dos fatos e encherem vossos corações de amor, fé e alegria para que esses momentos sejam mais frequentes.
(...) Precisamos caminhar sempre adiante, com fé e muita alegria, pois já conhecemos a verdade e sabemos que continuo vivo, daqui onde estou, sempre pensando em vocês. Espero reencontrá-los em melhores condições, com disposição para continuar. Roguemos a Jesus novas oportunidades desta abençoada carta. Deus nos proteja e abençoe.
Do amado filho, com muito amor.

Rafael




POR CLÁUDIO EDUARDO
Reportagem Especial publicada no DIARINHO de 14/11/11

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O cigarro mata. Os restos poluem!


DIARINHO percorreu um trecho da Marcos Konder, no centro de Itajaí, pra recolher bitucas de cigarro. O resultado comprova a falta de educação dos fumantes

 

Por Cláudio Eduardo 

 

Fotos: Minamar Junior


Os índices de mortalidade graças ao tabagismo são impressionantes. A cada 10 segundos, uma pessoa morre no mundo por causa do cigarro. Mas, não bastassem os riscos à saúde, o vício ultrapassa também a linha da educação: fumar em pontos de ônibus lotados, soltar a fumaça na direção de outras pessoas ou, simplesmente, arremessar a xepa do cigarro no chão. A equipe do DIARINHO percorreu, na última segunda-feira, um trecho da avenida Marcos Konder, no centro de Itajaí, pra recolher bitucas na calçada. Depois de uma hora e 15 minutos juntando os restinhos do cigarro, nos 600 metros que vão do McDonald’s até a esquina do camelô, o resultado foi impressionante: 838 bitucas.
O número de xepas de cigarro recolhidas pelo DIARINHO só não foi maior porque o pessoal que faz a limpeza das ruas já havia varrido a avenida cerca de oito horas antes. Com exceção dos domingos, todos os dias 70 funcionários da varrição manual da empresa Ambiental se revezam em dois turnos pra limpar a cidade. Eles começam o trabalho às 6h e a vassoura só para às 22h35. Mesmo assim, reconhecem que as vias nunca ficam limpas o suficiente. “Todo dia o pessoal chega reclamando que, quando estão acabando de varrer uma rua, no começo dela já tem gente jogando bitucas”, conta o supervisor de serviços gerais da Ambiental, Rodolfo Tominello. Ele diz que a falta de educação confirma o ditado de que todo fumante é um pouquinho porco.
De acordo com o chefe dos varredores, sem dúvida, a maior reclamação é quanto às xepas de cigarro. “As folhas de árvores também dificultam o trabalho, mas depende de época do ano. Além disso, a bituca indigna mais porque é algo que as pessoas poderiam evitar”, destaca Rodolfo. Fora isso, ele explica que, por ser um lixo muito pequeno, fica ainda mais complicado recolher as bitucas. “Pelo tamanho, acaba sendo um trabalho minucioso, pois é preciso catar”, ressalta.
E, depois da experiência da semana pasada, a equipe do DIARINHO sabe bem o quanto é difícil esse trabalho. Pra ajuntar as 838 bitucas, num período de pouco mais de uma hora, foi necessário um esforço físico maior do que a equipe imaginava. Essa foi a razão da experiência não ter ultrapassado os 600 metros.



O ministério da Saúde adverte...
- Ao fumar você inala arsênico e naftalina, também usados contra ratos e baratas;
- Fumar causa aborto espontâneo;
- Fumar causa mau hálito, perda de dentes e câncer de boca;
- Fumar causa câncer de pulmão;
- Fumar causa câncer de laringe;
- Fumar causa infarto do coração;
- Quem fuma não tem fôlego pra nada;
- Fumar na gravidez prejudica o bebê;
- Em gestantes, o cigarro provoca partos prematuros, o nascimento de crianças com peso abaixo do normal e facilidade de contrair asma;
- Crianças começam a fumar ao verem os adultos fumando;
- Nicotina é droga e causa dependência;
- Fumar causa impotência sexual;
- Ao fumar você inala arsênico e naftalina, também usados contra ratos e baratas;
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- Fumar causa mau hálito, perda de dentes e câncer de boca;
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- Fumar causa infarto do coração;
- Quem fuma não tem fôlego pra nada;
- Fumar na gravidez prejudica o bebê;
- Em gestantes, o cigarro provoca partos prematuros, o nascimento de crianças com peso abaixo do normal e facilidade de contrair asma;
- Crianças começam a fumar ao verem os adultos fumando;
- Nicotina é droga e causa dependência;
- Fumar causa impotência sexual


“Eu acreditava que o local que concentraria o maior número de bitucas seria os pontos de ônibus. No entanto, quando parei em frente ao hospital Marieta Konder Bornhausen, me deparei com uma quantidade assustadora de xepas. Uma ironia, considerando os riscos que o tabagismo, sabidamente, causa à saúde”.

“Numa cidade que tanto sofre com alagamentos por causa de esgotos entupidos, as pessoas ainda jogam sujeira nos bueiros. Encontrei várias bitucas nas bocas-de-lobo, provavelmente, porque quem as arremessou foi ruim de mira. Imagina, então, a quantidade dos que conseguiram arremessar e acertaram a xepa dentro do bueiro e não na rua”.

Itajaí não tem planos pra solucionar o problema

 

Muito antes de ser vereador, o presidente da câmara de Itajaí, Luiz Carlos Pissetti (DEM), já era fumante. Por 35 anos ele foi refém do cigarro. Há quatro meses se livrou do vício. Pissetti sabe bem os riscos e costumes do tabagismo e não vê uma forma de evitar que as pessoas sujem as calçadas com as xepas de cigarro. “Creio que não tem como fiscalizar. Qualquer meio pra apenar o fumante por jogar o filtro no chão é inviável”, comenta o presidente do legislativo. Ele garantiu que ainda não há nenhuma lei que aborde essa questão no município.
Pissetti reconhece que é preciso fazer algo pra diminuir a quantidade de bitucas jogadas pelas calçadas da cidade. Ele acredita que a única forma de brecar a sujeira é responsabilizando o fabricante do cigarro e, no nível regional, os estabelecimentos que revendem o produto. “Só assim pra ninguém vender mais, senão a situação fica incontrolável. Mas apenar os fabricantes foge da nossa competência. É preciso partir do nível federal”, explica o vereador. Na visão de Pissetti, a única solução que estaria ao alcance do legislativo municipal é fazer campanhas de conscientização pra que o povo evite sujar as ruas da cidade com os restos do cigarro.

Poluição miúda
Quem pensa que a bituca é só mais uma sujeirinha no chão, está enganado. Uma pesquisa da universidade de São Paulo (USP) mostra que duas xepas de cigarro produzem uma quantidade de poluição equivalente a de um litro de esgoto. A experiência foi feita pelos professores Aristides Almeida Rocha e Mário Albanese, nos laboratórios da faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Eles analisaram a reação de 20 bitucas dentro de 10 litros de água. A partir do estudo, observaram a presença de micro-organismos como bactérias, protozoários e fungos e concluíram que, em contato com a água, os restos de cigarro produzem um sedimento tóxico.


No interior de São Paulo surge uma alternativa

 

“Nosso objetivo é trabalhar com um outro lado da história. Além da saúde, o cigarro também faz mal pro meio ambiente”

 

 

Os irmãos Sérgio e Marcos Poiato tiveram a ideia de criar uma empresa coletora de bitucas. Eles levaram a proposta pra 32 cidades de São Paulo. A secretaria de Meio Ambiente de Votorantim/SP embarcou na ideia. Há um mês, o projeto virou realidade no município do interior paulista, com pouco mais de 110 mil habitantes. Marcos conta que, nos primeiros 30 dias, eles recolheram 82 quilos de bituca – ou 36,8 mil unidades, que equivalem a 1830 maços de cigarro.
Além de recolher a sujeira dos fumantes através de caixas coletoras espalhadas em pontos estratégicos da cidade, a empresa dos irmãos Poiato pensou na destinação dessas bitucas. “Nós fechamos um contrato com uma empresa de Uberlândia/MG, que criou uma técnica de reaproveitamento das bitucas”, afirma Sérgio. Ele explicou que essa empresa mineira inventou uma técnica que tira os metais pesados dos restos de cigarro e depois mistura as xepas com um composto orgânico. O resultado é uma espécie de adubo que é aplicado na recuperação de áreas degradadas em vários pontos do país.
Ao invés de vender as bitucas pra empresa que faz o adubo, os irmãos Poiato têm de pagar pra que ela receba os restos de cigarro. “Nós firmamos um contrato com eles [a empresa mineira] e vamos pagar por tonelada enviada pra lá, fora o gasto do transporte, já que nossa cidade fica a 700 quilômetros de Uberlândia. Mesmo assim, não é um custo caro, perto do investimento no meio ambiente”, conta Marcos. Ele não quis revelar qual o valor pago pela cooperativa pro destino das bitucas, pois acredita que divulgar números torna o projeto muito comercial, tirando o valor social da iniciativa.
A empresa dos irmãos Poiato, que tem como única receita neste projeto o dinheiro pago pela pela secretaria de Votorantim, é pioneira no recolhimento exclusivo de bitucas de cigarro. Eles espalharam caixas coletoras pela cidade e depois fazem o recolhimento, a triagem e, por fim, armazenagem. A intenção é juntar as toneladas suficientes pra encher um caminhão e enviar pra Uberlândia. “Nosso objetivo é trabalhar com um outro lado da história. Além da saúde, o cigarro também faz mal pro meio ambiente”, ressalta Marcos.
Com o resultado já aparecendo no município de Votorantim, ele conta que outras cidades paulistas estão negociando pra que instalem o projeto.



Reportagem publicada em 04/04/11
No caderno "Especial" do jornal Diário do Litoral - DIARINHO

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Crônica de uma terra alagada

Por Cláudio Eduardo

Com a mesma velocidade que subiu, a água baixou. Limparam-se as sujeiras, apagaram-se os rastros. Gravaram-se as lembranças tristes. Mas é só isso, então? Ao fim de mais uma enchente, ficaremos apenas na torcida de que a catástrofe fique enterrada no passado? Que parem de esperar soluções do divino e do profano – de Deus e dos políticos. Já passou da hora de nós, moradores desta terra alagada, aprendermos a lição desta enxurrada de emoções e de água lamacenta.

Foto de Cláudio Eduardo - feita com o celular no bairro Cordeiros - Itajaí /SC


Diário de um repórter:

7 de setembro de 2011, quarta-feira

Estava prestes a começar a enxurrada. No entanto, mesmo os mais pessimistas não tinham a coragem de arriscar, sem titubear, que a chuvarada que adiou os desfiles do feriado da Independência traria de volta a desgraça que caíra sobre a região três anos antes. De plantão na redação, descubro que algumas ruas já estavam empoçadas, e que, por água e ar, o trânsito estava parado: porto e aeroporto suspendem a movimentação. Antes de encerrar o expediente, uma última ligação. Pelo telefone, questiono a Defesa Civil: “teremos enchente?”. Ouço um sonoro “não” que me inspirou confiança. O cansaço do expediente deve ter cegado meu senso jornalístico. Engulo aquela resposta, digiro, escrevo, e vou embora.

8 de setembro de 2011, quinta-feira

Na redação, enquanto uns calculam os prejuízos da chuva que teima em continuar, outros repórteres dão sequência a suas respectivas editorias. Concentro-me na Política. Depois de quase tudo pronto, lá pelas 18h, vem a ordem. Devo esquecer o que já fiz do setor político e entrar para a cobertura do aguaceiro: é mesmo uma enchente! Encerro o expediente já sabendo que o pior ainda estava por vir. O dia seguinte seria terrível. Ainda tinha muita água por subir.

9 de setembro de 2011, sexta-feira

A angústia da incerteza de quanto a água subiu durante a madrugada é insuportável pela manhã. Mas não demora para que possa constatar os estragos e (pior) saber que as ruas deveriam encher mais até o fim do dia. Leio um alerta aos moradores da comunidade do Bambuzal, em Itajaí. Eles devem deixar rápido suas casas porque a previsão é de que a água subiria rapidamente. Corro para lá.
E a correria por aqueles lados estava grande. Entro em uma rua, com água pelos joelhos. Observo que uma família permanece isolada no segundo piso da residência. A matriarca explica que o andar superior foi justamente construído para que, em casos de enchente, eles não precisassem abandonar a casa. Ali ficava claro que as pessoas começaram a se adaptar à catástrofe. Perdeu-se a indignação.
Continuo a peregrinação pelos bairros. Vejo donas de casa chorando; ouço pais de família confirmando que, assim que tudo passar, vão pensar se continuam morando na cidade; converso com pessoas que moram em áreas não atingidas e que saem de casa somente para fotografar a desgraça dos outros. Em algumas comunidades onde havia descrença quanto à chegada da enchente, quando enfim a água confirmou a presença e começou a subir vejo um tumulto que transforma a rua num cenário de  guerra. Buzinas e gritos não são raros.
Mas eu não parecia estar abalado o suficiente. Por trás de uma câmera fotográfica e de um bloquinho de notas, por vezes o repórter vira pedra de gelo. Só não esperava perder a frieza justamente quando o dia estava acabando. E perdi. Numa das idas e vindas, passo pelo viaduto no trevo que vai de Itajaí para Brusque. Um cenário arrasador. Famílias amontoadas embaixo da ponte, unidas às carrocinhas e animais que conseguiram escapar das cheias numa comunidade próxima dali. Sem comida, sem banheiro, sem água.
Eles estavam jogados, contando apenas com a compaixão de quem passava por ali e entregava um pão seco ou um pacote de bolacha. E tudo era divido entre idosos e crianças. Naquele instante, minha voz embargou, meus olhos ameaçavam se render ao choro, e tive a real dimensão de tudo aquilo que estava acontecendo. A frieza do profissional deu lugar aos sentimentos do cidadão. O baque só foi maior quando um menino – não devia ter mais que cinco anos – interrompeu as mordidas num pão velho, me encarou  e perguntou: “o que o senhor tá fazendo?”. Sorri um riso triste e não soube o que responder. Apenas me afastei dali. Precisava respirar e secar qualquer lágrima teimosa que tentasse escapar. O trabalho tinha de continuar.
Depois de muitas conversas, de ouvir muitas histórias, parto para a última missão: um passeio com a Polícia Militar Ambiental, de barco, por áreas atingidas, no bairro Cordeiros. Era final de tarde. Naquela hora, ainda digeria tudo que tinha visto, ouvido e sentido. Tem lições da enchente que são muito mais importantes do que aprender o momento de levantar os eletrodomésticos. Quase no fim do “passeio”, vislumbro um pôr-do-sol que resvalava os reflexos laranja na água lamacenta. Encarei como a promessa de que no dia seguinte tudo voltaria ao normal.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A busca pelo COMPATÍVEL


Com 5ml de sangue, é possível alimentar a esperança de milhares de pessoas que lutam contra a leucemia. Caso haja compatibilidade, o “sim” pode devolver a vida para alguém. No Brasil, 1,2 mil pessoas aguardam na fila pelo transplante de medula óssea

 

“Tem tantos milagres acontecendo a todo o momento. No fundo, eu tenho a certeza de que vai acontecer um com o meu filho”

Por Cláudio Eduardo
 

A vida pode ser devolvida através de uma agulha. Por nove anos, Ruan Gabriel Serpa procurou um doador de medula óssea compatível. Em 2010, encontrou. Entretanto, a esperança de vencer a leucemia desapareceu com a covardia de um desconhecido. Hoje, aos 15 anos, o garoto está fora da lista de espera pelo transplante. Depois de sessões de tratamentos pesados, os médicos deram a notícia que a família se nega a ouvir: não adianta mais procurar alguém com compatibilidade; se o organismo de Ruan suportar o transplante, não aguentará o procedimento pós-cirúrgico. O fim da busca pela medula veio em outubro do ano passado – poucos meses após ter surgido uma pessoa compatível que, por razões ignoradas pela família, desistiu de doar.
Atualmente, o transplante de medula óssea é a única esperança de cura para 1,2 mil pessoas que sofrem de leucemia e estão aptas para passar por este procedimento no Brasil. A possibilidade de encontrar uma medula compatível é de uma em 100 mil. E a mãe de Ruan foi à luta para encontrar onde estava a única chance do filho. Giana Carla Melo Serpa, 38, largou tudo para se dedicar unicamente a Ruan desde que ele foi diagnosticado com leucemia linfoide aguda (LLA), aos seis anos. Assim que ele iniciou o tratamento, mesmo sem estar na fila de espera pelo transplante, Giana exigiu que fosse feito o teste de compatibilidade na família e, quando chegaram os resultados, ela descobriu que nenhum dos parentes poderia ser doador caso o menino precisasse.
“Sempre exigi que o tratamento do meu filho fosse o melhor possível e que não o privassem de nada. Para os médicos, ele era mais um. Mas, para mim, é o meu filho”, narra a dona de casa. Hoje, Ruan só toma medicamentos para que a doença não progrida. Em outubro do ano passado, quando os médicos o desenganaram e mandaram para casa para passar os últimos dias perto da família, o garoto se recuperou de uma forma incomum. “Eu sinto que as coisas estão se afunilando. Está cada dia mais difícil, mas ele é guerreiro”, conta a mãe.
Apesar de ser um adolescente, Ruan tem físico de um menino: mede 1,48m e pesa pouco mais de 40 quilos. Todos os tratamentos a que se submeteu para vencer a leucemia acabaram retardando o crescimento. Hoje, já bastante debilitado, o garoto passa os dias em frente à televisão ou ao computador. A mãe conta que ele anda deprimido e dorme 20 horas por dia. “As pessoas me dizem que eu já sei o que vai acontecer e que devo estar preparada. Não, eu não estou preparada! Tem tantos milagres acontecendo a todo o momento. No fundo, eu tenho a certeza de que vai acontecer um com o meu filho”, enfatiza Giana, com a firmeza de quem confia no instinto maternal.


Foto: Minamar Junior

EXPLICAÇÃO MÉDICA
Quais as chances de encontrar alguém compatível?
De acordo com a médica hematologista Samara Graf do Prado, com base nas leis genéticas, as chances de se encontrar um doador ideal entre irmãos (filhos dos mesmos pai e mãe) é de 25%. Mas, caso não exista alguém compatível na família, há como encontrar um doador não aparentado através do Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome). “Para que se realize um transplante de medula é necessário que haja uma total compatibilidade entre doador e receptor. Caso contrário, a medula será rejeitada”, afirma a especialista. Ela explica que a compatibilidade é determinada por um conjunto de genes localizados no cromossoma 6. “A partir de amostras de sangue, a análise é realizada por meio de testes laboratoriais específicos chamados de exames de histocompatibilidade”, salienta.
O tratamento da leucemia pode afetar o crescimento?
A hematologista conta que o primeiro passo depois que o paciente recebe o diagnóstico de leucemia é a indicação de quimioterapia para o prolongamento de sobrevida. Todavia, há diversos efeitos colaterais causados pelas drogas utilizadas no tratamento. “As pessoas têm organismos únicos, logo, respondem de forma diferente à quimioterapia”, explica Samara.
Como funciona o transplante?
“Existem duas formas de doar as células-mãe da medula óssea: uma coletada nos ossos da bacia e a outra é a filtração pelas veias”, destaca a hematologista. A forma mais comum é a retirada da bacia, em que se coleta a quantidade de medula equivalente a uma bolsa de sangue. Mas não há razão para que o doador tenha medo. “É aplicada anestesia e o procedimento dura, em média, 60 minutos. Não fica nenhuma cicatriz. É importante destacar que não é uma cirurgia, ou seja, não há cortes e nem pontos”, explica Samara. Depois da retirada da medula, o doador fica em observação no hospital por um dia e, em poucas semanas, já tem a medula completamente recuperada.


Para entrar na lista de doadores, basta tirar 5ml de sangue

A desinformação é a vilã para que o número de doadores não aumente. Hoje, 2,2 milhões de brasileiros estão cadastrados no Redome, sendo que apenas 82 mil são de Santa Catarina. Segundo a assistente social do setor de captação de medula óssea do Hemosc, Diná Pinheiro, 52 anos, mais importante que o número de pessoas registradas é o comprometimento. “Precisamos de pessoas conscientes. Tem gente que se cadastra na emoção e, quando é compatível, desiste. Também têm os que não atualizam os dados e temos dificuldade para encontrar”, lamenta a assistente social.
O hospital Marieta Konder Bornhausen, de Itajaí, realiza o cadastramento de doadores de medula óssea há quatro anos. Até agora, apenas 496 nomes aparecem na lista de pessoas que entraram para o Redome pelo hospital. De acordo com a enfermeira responsável pela agência transfusional, Elaine Schmitt, 23, a falta de orientação ainda é um grande empecilho. “As pessoas têm medo porque acham que vamos colocar a agulha na coluna. Mas não é assim que funciona”, comenta a enfermeira. Ela leva cerca de 10 minutos para finalizar o cadastro de quem tem interesse em ser doador – entre o preenchimento dos dados pessoais e a retirada de 5ml de sangue. “Os que nos procuram geralmente assistiram algo na televisão ou então conhecem alguém que precisa do transplante. É muito difícil quem venha de forma espontânea”, afirma Elaine.

Campanha em Camboriú
O microempresário Marcelo Rodrigues, 45, está no Redome há quatro anos. Em 2007, a família de Ruan realizou uma campanha em Camboriú – cidade onde mora – para incentivar o cadastro de possíveis doadores. Na época, o Hemosc liberou a captação de quase 600 amostras. Nenhuma delas foi compatível para Ruan. No entanto, estas pessoas ficaram na lista e, quem sabe, um dia poderão ajudar outro paciente com leucemia. Marcelo é um deles. “Eu me cadastrei porque tinha amizade com a família do Ruan. Não fui compatível com ele, mas continuo na lista de doadores. Só de imaginar que é um gesto para salvar uma vida, se for chamado, não pensarei duas vezes antes de doar”, garante.

Fazer o cadastro é fácil e rápido
Ao contrário da doação de sangue, que segue uma série de restrições, para entrar para a lista de doadores de medula óssea só é preciso ter entre 18 e 55 anos e não estar doente. Para ser registrado no Redome, basta procurar um hemocentro ou uma agência transfusional que faça o cadastro. O nome que aumentou a lista de voluntários à doação em Itajaí foi o do repórter do DIARINHO, Cláudio Eduardo de Souza, que fez o cadastro e comprovou como é simples entrar para o rol de possíveis doadores de medula óssea. A demora entre preencher uma folha com os dados pessoais e tirar sangue não passa de 10 minutos. Depois, é só esperar para, no caso de aparecer alguém que precise da doação, reafirmar o “sim”.



Foto: Roberta Ramos

Para se cadastrar como doador de medula óssea:
- Você deve ter entre 18 e 55 anos e estar saudável;
- Será colhido, pelas veias do braço, apenas 5ml de sangue;
- A classificação da sua medula será colocada no Redome;
- No caso de um transplante, será verificada a compatibilidade entre a medula do paciente e a do doador. Se for compatível, outros exames serão necessários. Por isso, o centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (Hemosc) pede que os dados (endereço e telefone) sejam sempre atualizados



Não há limites para um guerreiro de verdade

Foto: Álbum de Família


Ruan é apaixonado por futebol. Entretanto, por causa do estágio da doença, não pode mais encarar os campinhos e brincar com os amigos. Agora, o esporte se restringe entre assistir aos jogos na televisão ou competir no gramado do vídeo-game. A mãe Giana sempre tentou tratar o filho como se ele não tivesse nenhuma doença: ele frequentou a escola e saía às ruas para brincar – isso no tempo em que não estava em tratamento. No mais, a vida do garoto e da mãe dele tem sido dentro do hospital infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis.
Tímido, Ruan está numa fase monossilábica. Ele precisou ser convencido pela família para topar ser fotografado para a reportagem. Giana diz que o filho já perdeu grande parte da alegria que o ajudou a superar todas as fases da leucemia até agora. Ruan não pronunciou uma frase, só fez acenos com a cabeça. O olhar entristecido dizia tudo: não queria papo. Todo guerreiro tem direito ao silêncio.


REPORTAGEM PUBLICADA EM 27/06/2011
Editoria de Especial - DIARINHO