terça-feira, 29 de novembro de 2011

Reportagem em série sobre doação de órgãos

Primeiro dia:
Das tragédias da SC-411 surge a vida através da doação de órgãos e tecidos


Da morte à vida

Somente um gesto de amor é capaz de transformar a tragédia em alegria. Aos 64 anos, Valmir Nunes é a prova viva disto. No peito dele bate um coração de outra pessoa. Há quase quatro anos o aposentado fez um transplante cardíaco. Ele não conhece a identidade ou história do Doador. A única coisa que sabe é a causa da morte: um acidente na Rodovia que liga os Municípios do Vale do Rio Tijucas, a SC-411. Da estrada, que acumula desgraça, Nunes recebeu uma segunda chance. Do ato de doação, o exemplo da solidariedade.

A Rodovia SC-411 não é temida à toa. Só este ano, no trecho que vai de Tijucas a Nova Trento, 14 mortes instântaneas foram registradas. Entretanto nas estatísticas de vítimas fatais não estão incluídos aqueles que foram levados ainda com vida ao Hospital. E são justamente essas pessoas que podem ser doadores de órgãos e tecidos. "A captação só pode ser feita em casos de morte assistida, ou seja, o paciente precisa estar internado", explica a coordenadora de enfermagem do Hospital São José de Tijucas, Maria Aparecida Roselindo.
De acordo com a enfermeira, nos casos de acidentes mais graves, como são os que ocorrem na SC-411, o paciente já chega morto no Hospital, ou precisa ser internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). "Como não temos UTI em Tijucas, encaminhamos o paciente para outras cidades, geralmente Florianópolis", destaca Maria Aparecida, justificando o motivo do Hospital São José não captar órgãos e tecidos. "A maioria das transferências de pacientes são para Florianópolis, pois lá estão os hospitais de referência em Traumatologia", afirma a coordenadora de Enfermagem. No entanto,o coração que Nunes recebeu em 2006 foi captado em outra cidade de Santa Catarina.


Depois de seis anos na angustiante fila de espera por um coração, Valmir Nunes recebeu o tão aguardado telefonema. "Quando me ligaram para eu ir às pressas para o Hospital porque tinham um coração novo para mim, fiquei feliz. Mas tentei não me empolgar muito, para não me decepcionar casonão desse certo", salienta o aposentado. O receio de Nunes é que ocorresse o mesmo que em Outubro de 2003. "Quando se precisa de uma doação, ficamos apegados à esperança. Há sete anos eu estava numa mesa de cirurgia para receber um novo coração. Mas não deu certo", recorda. Segundo o aposentado o médico cardiologista percebeu uma infecção no órgão que seria transplantado. Mais uma vez Nunes voltou para a Fila.
Com todos os motivos para desanimar, o aposentado que mora no bairro Universitário, em Tijucas, superou a fase difícil com muito bom humor. Hoje então, já com coração novo, ele tem motivos de sobra para comemorar. "Digo com toda a certeza que nasci de novo. Sei que é difícil para a família decidir pela doação dos órgãos no momento da perda, mas esse gesto salvou minha vida", ressalta Nunes. Pai de sete filhos, o aposentado conta que, antes do transplante, não conseguia andar três quadras. Hoje, Nunes circula de bicicleta pela cidade sem se cansar. Ele transborda vivacidade. "Quando eu morrer, podem retirar todo órgão que possa ser aproveitado para ajudar outra pessoa", retribui, dando sequência à mesma corrente do bem que lhe devolveu o dom da vida.




Amanhã coloco segundo dia da reportagem!


Série publicada no fim de agosto do 2010 no jornal Notícias do Dia - Vale do Rio Tijucas e Costa Esmeralda. E publicada novamente no ND da Grande Florianópolis no início de setembro do mesmo ano.

Texto: Cláudio Eduardo
Fotos: Allex W. Farias

Um comentário:

  1. Devido a necessidade de doadores e a não permissão dada pela familia de pessõas em óbito,deveria ser igual a antes,quando a pessõa fazia constar em sua carteira de motorista ou RG,a sua vontade de o fazer.Em pouco tempo acabariamos com as filas de espera,que muitas vezes acabam em óbito por falta de doadores.

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