sábado, 29 de setembro de 2012

DEBATE EM TIJUCAS - QUEM GANHOU?

Candidatos de Tijucas se enfrentam faltando uma semana para o fim da campanha


Texto e fotos: Cláudio Eduardo

Enquanto do lado de fora da câmara de vereadores de Tijucas “periquitos” e “canários” travavam uma disputa de gritos – aplausos e vaias – e na caixa de som, os candidatos Adalto Gomes (PT) e Valério Tomazi (PMDB) se alfinetavam dentro da sede do poder legislativo. Restando apenas uma semana para se fazer campanha eleitoral, os dois prefeituráveis tentaram, à base da saliva, ganhar o voto do eleitor indeciso no debate da Rádio Vale.
Cada um dos candidatos tinha o direito de convidar um político para assessorá-lo ao longo do embate. E, como já previsto, por trás de Valério estava o atual prefeito Elmis Mannrich (PMDB); e com Adalto estava justamente o adversário de Elmis na eleição de 2008, Roberto Vailati (PT). Contudo, com os microfones ligados, os dois políticos que faziam as vezes de assessores, colaboravam no máximo com olhares – que em alguns momentos eram vagos e em outros provocativos.
De um lado, respaldado pelo fato de ser o candidato do único prefeito já reeleito em Tijucas, Valério usava o discurso da continuidade: “já fizemos, vamos fazer mais!”. Por outro lado, Adalto usava o partido como argumento favorável: “apoiamos o governo federal, e lá vamos ter vez e voz!”. Quem venceu? Quem convenceu? Que venha o dia 7 de outubro para responder.


Valério: O senhor diz que construirá a Estação de Tratamento de Esgoto. Mais uma razão para não ser eleito, porque fala que vai construir algo que já está sendo construído. O que acha do saneamento do nosso município?
Adalto: A questão da construção da Estação de Tratamento de Esgoto é uma luta que já vem lá de trás. A administração que o senhor faz parte titubeou várias vezes em buscar recursos. Foi o vice-prefeito da época, o Roberto Vailati, quem lutou para sair essa Estação. O senhor enquanto engenheiro deveria estar preocupado porque estão construindo numa região onde alaga. Como vão fazer quando tiver uma enchente e a Estação ficar no meio da água?
Valério: O projeto está protocolado em Brasília, em dois ministérios. Foi obra do prefeito Elmis, quando o vice que o senhor mencionou já tinha largado o barco, em 2008.
Adalto: O senhor está mal informado. O projeto aconteceu em 2005, eu estava no ministério quando foi anunciado.


Adalto: Primeiro, o que o senhor propõe para uma situação que vem se arrastando no município, que são os andarilhos? E o que propõe para mobilidade urbana? Porque os deficientes físicos estão sofrendo muito...
Valério: Sobre os andarilhos, a Assistência Social tem feito um trabalho muito forte. E vamos construir uma casa de passagem. Esse problema não é só de Tijucas, mas aqui tem cidades turísticas que desovam estes cidadãos. E nós vamos respeitar essas pessoas. Quanto à mobilidade urbana, a parte de acessibilidade é algo que vem de outros governos, jamais foram feitas obras respeitando isso. Mas já se avançou muito.
Adalto: Quero lamentar essa sua posição. Eu sou contra a casa de passagem em Tijucas, porque a maioria dos andarilhos é dependente químico e muitos saíram do presídio. Temos que mandar essas pessoas para casas de tratamento de dependentes químicos, de preferência bem longe de Tijucas.
Valério: ele pode discordar de qualquer coisa, porque ele só lamenta mesmo. Só lamenta!


Valério: No seu programa eleitoral o senhor citou como compromisso a ponte da Itinga. Como ficou sua principal proposta se o problema já está sendo resolvido?
Adalto: Não vote em candidato que faz vocês sofrerem! O sofrimento de um ano esperando por uma obra caracteriza até falta de respeito com vocês. As condições daquela ponte não têm futuro. Não vai muito longe aquela ponte.
Valério: O senhor faltou com a verdade para com o povo da Itinga, porque já sabia que o processo licitatório estava aberto quando falou para o povo que ia atrás de recursos. Esforço do prefeito Elmis não faltou.
Adalto: Não sou acostumado com a inverdade, até porque sou um político ficha limpa.


Adalto: Qual sua proposta para um grande drama que temos hoje em Tijucas, que é o transporte de pessoas que precisam de atendimento na saúde para Florianópolis?
Valério: Nós vamos continuar dando atenção. Já fizemos muito por saúde e vamos continuar. Quanto à questão do transporte, não é responsabilidade do município. Atendimentos de alta complexidade são de responsabilidade do governo federal e do estado. Mas nós não vamos negar. Jamais. Vamos buscar em casa, levar, trazer e devolver em casa.
Adalto: Durante esses oito anos, muita coisa deixou de ser feita, o que faz com que muitas pessoas tenham que ir para Florianópolis. E o seu programa é continuar maltratando as pessoas, tendo que ir para a estrada atrás de tratamento? Essa semana teve mais um acidente com ambulância de Tijucas que levava pacientes para Florianópolis.
Valério: Acidente ocorre todos os dias e com quem estiver na estrada. Não é por isso que vamos nos retrair.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

CPI DO RUTH: Indiciado vira presidente nacional da Cruz Vermelha


Nício Lacorte conta que entidade internacional vai bancar auditoria para investigar denúncias de dinheiro público desviado – inclusive em Balneário Camboriú.


Foto: Martha Kienast/DIARINHO


Suspeitas de desvio de dinheiro público abalaram a diretoria nacional da Cruz Vermelha Brasileira (CVB). E derrubaram o presidente e o vice. Denúncias publicadas no DIARINHO há meses, nos últimos dias estiveram em pauta em grandes veículos de comunicação do país – como a revista Veja e o jornal Folha de S. Paulo. O escândalo do grupo que, supostamente usava a bandeira de entidade internacional para acumular fortuna, fez com que o presidente nacional da CVB, o maranhense Walmir de Jesus Moreira Serra, e o vice dele, Anderson Marcelo Choucino, pedissem demissão do cargo. E, em assembleia, ficou decidido que no lugar dos dois que estão na lista de indiciados pela CPI Ruth Cardoso, entrasse outro que também foi apontado como culpado pelo inquérito parlamentar: o até então presidente da filial gaúcha da Cruz Vermelha, Nício Brasil Lacorte.
Agora no comando nacional da entidade, Nício diz que Balneário Camboriú ainda está nos planos. A Cruz Vermelha gaúcha está entre as organizações sociais que disputam o novo processo licitatório para assumir o comando do hospital municipal Ruth Cardoso – que está sob o comando da prefeitura desde que o município rescindiu o contrato com a entidade internacional após desgastantes entraves de denúncia e defesa. “Se ganharmos a licitação, vamos fazer um trabalho diferente”, afirma o novo presidente da CVB. Nício conta que o vice dele na nova diretoria é o médico psiquiatra Manoel Garcia Júnior. Quanto ao comando da filial gaúcha, está preparando a renúncia, conforme prevê o estatuto, e vai convocar uma assembleia do conselho deliberativo para escolher o presidente que irá substituí-lo.
Mesmo após tantas denúncias, Nício afirma que ainda não constata irregularidades na forma como foi gerido o Ruth Cardoso. Mas diz que, se aconteceram desvios, irão ser identificados e reconhecidos pela entidade. “Na época, eu não assinava nenhum cheque. Só recebi uns R$ 30 mil que era da parte administrativa. Quem administrava era o órgão central, capitaneado pelo presidente e pelo vice [Walmir e Anderson Marcelo]”, assegura, informando que, com a renúncia da dupla, eles agora não terão qualquer participação na Cruz Vermelha nacional ou nas filiais.
Vão investigar tudo!
Uma das novidades que Nício – agora como presidente nacional da CVB – anunciou é que, numa parceria com o comitê e a federação internacional da entidade, serão feitas auditorias nas contas do órgão central e de todas as filiais. Nesta remessa, também serão investigadas as denúncias de desvio do dinheiro de Balneário que deveria ser investido no Ruth Cardoso e acabou indo para outras contas bancárias, principalmente para o Maranhão. “Firmamos este acordo porque a Cruz Vermelha está no fundo do poço e a nossa meta é fazer com que a entidade seja, novamente, destaque positivo”.
Quer falar com o prefeito
Nício diz que, tomando por base o que a contabilidade da filial gaúcha apresentava a ele, todo o dinheiro que era repassado pela prefeitura realmente era aplicado no hospital. Mesmo assim, vai aguardar o resultado da auditoria. “Se a Cruz Vermelha errou, então a comissão de avaliação também errou, o Comus errou, e o prefeito também! Caso tenha erro, eu faço a minha culpa e cada um que faça a sua”, provoca. Ele diz que pretende se encontrar com o Edson Periquito (PMDB) para esclarecer o que ficou pendente entre a entidade e o município. “Assim que passar a turbulência política da eleição, vou sentar com o prefeito para conversar. Isto se ele quiser me receber”, finaliza.
Para quem não lembra...
Nem faz um ano que o hospital municipal de Balneário Camboriú foi aberto. E, em tão pouco tempo, vieram as denúncias de mau atendimento e de desvio de dinheiro público por parte da entidade que administrava a unidade. Em abril deste ano, a prefeitura assinou o decreto de intervenção que tirou a Cruz Vermelha gaúcha do comando do hospital. O Ministério Público instaurou três inquéritos civis e o legislativo, a CPI. Ao final, a comissão parlamentar indiciou 16 pessoas: entre eles o próprio prefeito e o presidente da filial gaúcha da Cruz Vermelha – que agora assume a entidade nacional.
Em reportagens exclusivas, no mês de junho o DIARINHO publicou entrevista com uma pessoa do alto escalão da CVB e que contou detalhes do que ele classificou como uma quadrilha especializada em aplicar golpes usando o terceiro setor – e no caso de Balneário, usou a bandeira da Cruz Vermelha para fazer os desvios do dinheiro público. Também com exclusividade, o DIARINHO apresentou os números que foram revelados pela quebra do sigilo bancário. Dos mais de R$ 12 milhões pagos pelos cofres públicos, 25% foram desviados para uma segunda conta da entidade e quase R$ 1,5 milhão transferido para o Maranhão.
Matéria publicada no DIARINHO
Em 18 de setembro de 2012.