terça-feira, 18 de setembro de 2012

CPI DO RUTH: Indiciado vira presidente nacional da Cruz Vermelha


Nício Lacorte conta que entidade internacional vai bancar auditoria para investigar denúncias de dinheiro público desviado – inclusive em Balneário Camboriú.


Foto: Martha Kienast/DIARINHO


Suspeitas de desvio de dinheiro público abalaram a diretoria nacional da Cruz Vermelha Brasileira (CVB). E derrubaram o presidente e o vice. Denúncias publicadas no DIARINHO há meses, nos últimos dias estiveram em pauta em grandes veículos de comunicação do país – como a revista Veja e o jornal Folha de S. Paulo. O escândalo do grupo que, supostamente usava a bandeira de entidade internacional para acumular fortuna, fez com que o presidente nacional da CVB, o maranhense Walmir de Jesus Moreira Serra, e o vice dele, Anderson Marcelo Choucino, pedissem demissão do cargo. E, em assembleia, ficou decidido que no lugar dos dois que estão na lista de indiciados pela CPI Ruth Cardoso, entrasse outro que também foi apontado como culpado pelo inquérito parlamentar: o até então presidente da filial gaúcha da Cruz Vermelha, Nício Brasil Lacorte.
Agora no comando nacional da entidade, Nício diz que Balneário Camboriú ainda está nos planos. A Cruz Vermelha gaúcha está entre as organizações sociais que disputam o novo processo licitatório para assumir o comando do hospital municipal Ruth Cardoso – que está sob o comando da prefeitura desde que o município rescindiu o contrato com a entidade internacional após desgastantes entraves de denúncia e defesa. “Se ganharmos a licitação, vamos fazer um trabalho diferente”, afirma o novo presidente da CVB. Nício conta que o vice dele na nova diretoria é o médico psiquiatra Manoel Garcia Júnior. Quanto ao comando da filial gaúcha, está preparando a renúncia, conforme prevê o estatuto, e vai convocar uma assembleia do conselho deliberativo para escolher o presidente que irá substituí-lo.
Mesmo após tantas denúncias, Nício afirma que ainda não constata irregularidades na forma como foi gerido o Ruth Cardoso. Mas diz que, se aconteceram desvios, irão ser identificados e reconhecidos pela entidade. “Na época, eu não assinava nenhum cheque. Só recebi uns R$ 30 mil que era da parte administrativa. Quem administrava era o órgão central, capitaneado pelo presidente e pelo vice [Walmir e Anderson Marcelo]”, assegura, informando que, com a renúncia da dupla, eles agora não terão qualquer participação na Cruz Vermelha nacional ou nas filiais.
Vão investigar tudo!
Uma das novidades que Nício – agora como presidente nacional da CVB – anunciou é que, numa parceria com o comitê e a federação internacional da entidade, serão feitas auditorias nas contas do órgão central e de todas as filiais. Nesta remessa, também serão investigadas as denúncias de desvio do dinheiro de Balneário que deveria ser investido no Ruth Cardoso e acabou indo para outras contas bancárias, principalmente para o Maranhão. “Firmamos este acordo porque a Cruz Vermelha está no fundo do poço e a nossa meta é fazer com que a entidade seja, novamente, destaque positivo”.
Quer falar com o prefeito
Nício diz que, tomando por base o que a contabilidade da filial gaúcha apresentava a ele, todo o dinheiro que era repassado pela prefeitura realmente era aplicado no hospital. Mesmo assim, vai aguardar o resultado da auditoria. “Se a Cruz Vermelha errou, então a comissão de avaliação também errou, o Comus errou, e o prefeito também! Caso tenha erro, eu faço a minha culpa e cada um que faça a sua”, provoca. Ele diz que pretende se encontrar com o Edson Periquito (PMDB) para esclarecer o que ficou pendente entre a entidade e o município. “Assim que passar a turbulência política da eleição, vou sentar com o prefeito para conversar. Isto se ele quiser me receber”, finaliza.
Para quem não lembra...
Nem faz um ano que o hospital municipal de Balneário Camboriú foi aberto. E, em tão pouco tempo, vieram as denúncias de mau atendimento e de desvio de dinheiro público por parte da entidade que administrava a unidade. Em abril deste ano, a prefeitura assinou o decreto de intervenção que tirou a Cruz Vermelha gaúcha do comando do hospital. O Ministério Público instaurou três inquéritos civis e o legislativo, a CPI. Ao final, a comissão parlamentar indiciou 16 pessoas: entre eles o próprio prefeito e o presidente da filial gaúcha da Cruz Vermelha – que agora assume a entidade nacional.
Em reportagens exclusivas, no mês de junho o DIARINHO publicou entrevista com uma pessoa do alto escalão da CVB e que contou detalhes do que ele classificou como uma quadrilha especializada em aplicar golpes usando o terceiro setor – e no caso de Balneário, usou a bandeira da Cruz Vermelha para fazer os desvios do dinheiro público. Também com exclusividade, o DIARINHO apresentou os números que foram revelados pela quebra do sigilo bancário. Dos mais de R$ 12 milhões pagos pelos cofres públicos, 25% foram desviados para uma segunda conta da entidade e quase R$ 1,5 milhão transferido para o Maranhão.
Matéria publicada no DIARINHO
Em 18 de setembro de 2012.

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