Nício Lacorte conta
que entidade internacional vai bancar auditoria para investigar
denúncias de dinheiro público desviado – inclusive em Balneário
Camboriú.
Foto: Martha Kienast/DIARINHO
Suspeitas de desvio de
dinheiro público abalaram a diretoria nacional da Cruz Vermelha
Brasileira (CVB). E derrubaram o presidente e o vice. Denúncias
publicadas no DIARINHO há meses, nos últimos dias estiveram em
pauta em grandes veículos de comunicação do país – como a
revista Veja e o jornal Folha de S. Paulo. O escândalo do grupo que,
supostamente usava a bandeira de entidade internacional para acumular
fortuna, fez com que o presidente nacional da CVB, o maranhense
Walmir de Jesus Moreira Serra, e o vice dele, Anderson Marcelo
Choucino, pedissem demissão do cargo. E, em assembleia, ficou
decidido que no lugar dos dois que estão na lista de indiciados pela
CPI Ruth Cardoso, entrasse outro que também foi apontado como
culpado pelo inquérito parlamentar: o até então presidente da
filial gaúcha da Cruz Vermelha, Nício Brasil Lacorte.
Agora no comando
nacional da entidade, Nício diz que Balneário Camboriú ainda está
nos planos. A Cruz Vermelha gaúcha está entre as organizações
sociais que disputam o novo processo licitatório para assumir o
comando do hospital municipal Ruth Cardoso – que está sob o
comando da prefeitura desde que o município rescindiu o contrato com
a entidade internacional após desgastantes entraves de denúncia e
defesa. “Se ganharmos a licitação, vamos fazer um trabalho
diferente”, afirma o novo presidente da CVB. Nício conta que o
vice dele na nova diretoria é o médico psiquiatra Manoel Garcia
Júnior. Quanto ao comando da filial gaúcha, está preparando a
renúncia, conforme prevê o estatuto, e vai convocar uma assembleia
do conselho deliberativo para escolher o presidente que irá
substituí-lo.
Mesmo após tantas
denúncias, Nício afirma que ainda não constata irregularidades na
forma como foi gerido o Ruth Cardoso. Mas diz que, se aconteceram
desvios, irão ser identificados e reconhecidos pela entidade. “Na
época, eu não assinava nenhum cheque. Só recebi uns R$ 30 mil que
era da parte administrativa. Quem administrava era o órgão central,
capitaneado pelo presidente e pelo vice [Walmir e Anderson Marcelo]”,
assegura, informando que, com a renúncia da dupla, eles agora não
terão qualquer participação na Cruz Vermelha nacional ou nas
filiais.
Vão investigar tudo!
Uma das novidades que
Nício – agora como presidente nacional da CVB – anunciou é que,
numa parceria com o comitê e a federação internacional da
entidade, serão feitas auditorias nas contas do órgão central e de
todas as filiais. Nesta remessa, também serão investigadas as
denúncias de desvio do dinheiro de Balneário que deveria ser
investido no Ruth Cardoso e acabou indo para outras contas bancárias,
principalmente para o Maranhão. “Firmamos este acordo porque a
Cruz Vermelha está no fundo do poço e a nossa meta é fazer com que
a entidade seja, novamente, destaque positivo”.
Quer falar com o
prefeito
Nício diz que, tomando
por base o que a contabilidade da filial gaúcha apresentava a ele,
todo o dinheiro que era repassado pela prefeitura realmente era
aplicado no hospital. Mesmo assim, vai aguardar o resultado da
auditoria. “Se a Cruz Vermelha errou, então a comissão de
avaliação também errou, o Comus errou, e o prefeito também! Caso
tenha erro, eu faço a minha culpa e cada um que faça a sua”,
provoca. Ele diz que pretende se encontrar com o Edson Periquito
(PMDB) para esclarecer o que ficou pendente entre a entidade e o
município. “Assim que passar a turbulência política da eleição,
vou sentar com o prefeito para conversar. Isto se ele quiser me
receber”, finaliza.
Para quem não
lembra...
Nem faz um ano que o
hospital municipal de Balneário Camboriú foi aberto. E, em tão
pouco tempo, vieram as denúncias de mau atendimento e de desvio de
dinheiro público por parte da entidade que administrava a unidade.
Em abril deste ano, a prefeitura assinou o decreto de intervenção
que tirou a Cruz Vermelha gaúcha do comando do hospital. O
Ministério Público instaurou três inquéritos civis e o
legislativo, a CPI. Ao final, a comissão parlamentar indiciou 16
pessoas: entre eles o próprio prefeito e o presidente da filial
gaúcha da Cruz Vermelha – que agora assume a entidade nacional.
Em reportagens
exclusivas, no mês de junho o DIARINHO publicou entrevista com uma
pessoa do alto escalão da CVB e que contou detalhes do que ele
classificou como uma quadrilha especializada em aplicar golpes usando
o terceiro setor – e no caso de Balneário, usou a bandeira da Cruz
Vermelha para fazer os desvios do dinheiro público. Também com
exclusividade, o DIARINHO apresentou os números que foram revelados
pela quebra do sigilo bancário. Dos mais de R$ 12 milhões pagos
pelos cofres públicos, 25% foram desviados para uma segunda conta da
entidade e quase R$ 1,5 milhão transferido para o Maranhão.
Matéria publicada no DIARINHO
Em 18 de setembro de 2012.
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