sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O cigarro mata. Os restos poluem!


DIARINHO percorreu um trecho da Marcos Konder, no centro de Itajaí, pra recolher bitucas de cigarro. O resultado comprova a falta de educação dos fumantes

 

Por Cláudio Eduardo 

 

Fotos: Minamar Junior


Os índices de mortalidade graças ao tabagismo são impressionantes. A cada 10 segundos, uma pessoa morre no mundo por causa do cigarro. Mas, não bastassem os riscos à saúde, o vício ultrapassa também a linha da educação: fumar em pontos de ônibus lotados, soltar a fumaça na direção de outras pessoas ou, simplesmente, arremessar a xepa do cigarro no chão. A equipe do DIARINHO percorreu, na última segunda-feira, um trecho da avenida Marcos Konder, no centro de Itajaí, pra recolher bitucas na calçada. Depois de uma hora e 15 minutos juntando os restinhos do cigarro, nos 600 metros que vão do McDonald’s até a esquina do camelô, o resultado foi impressionante: 838 bitucas.
O número de xepas de cigarro recolhidas pelo DIARINHO só não foi maior porque o pessoal que faz a limpeza das ruas já havia varrido a avenida cerca de oito horas antes. Com exceção dos domingos, todos os dias 70 funcionários da varrição manual da empresa Ambiental se revezam em dois turnos pra limpar a cidade. Eles começam o trabalho às 6h e a vassoura só para às 22h35. Mesmo assim, reconhecem que as vias nunca ficam limpas o suficiente. “Todo dia o pessoal chega reclamando que, quando estão acabando de varrer uma rua, no começo dela já tem gente jogando bitucas”, conta o supervisor de serviços gerais da Ambiental, Rodolfo Tominello. Ele diz que a falta de educação confirma o ditado de que todo fumante é um pouquinho porco.
De acordo com o chefe dos varredores, sem dúvida, a maior reclamação é quanto às xepas de cigarro. “As folhas de árvores também dificultam o trabalho, mas depende de época do ano. Além disso, a bituca indigna mais porque é algo que as pessoas poderiam evitar”, destaca Rodolfo. Fora isso, ele explica que, por ser um lixo muito pequeno, fica ainda mais complicado recolher as bitucas. “Pelo tamanho, acaba sendo um trabalho minucioso, pois é preciso catar”, ressalta.
E, depois da experiência da semana pasada, a equipe do DIARINHO sabe bem o quanto é difícil esse trabalho. Pra ajuntar as 838 bitucas, num período de pouco mais de uma hora, foi necessário um esforço físico maior do que a equipe imaginava. Essa foi a razão da experiência não ter ultrapassado os 600 metros.



O ministério da Saúde adverte...
- Ao fumar você inala arsênico e naftalina, também usados contra ratos e baratas;
- Fumar causa aborto espontâneo;
- Fumar causa mau hálito, perda de dentes e câncer de boca;
- Fumar causa câncer de pulmão;
- Fumar causa câncer de laringe;
- Fumar causa infarto do coração;
- Quem fuma não tem fôlego pra nada;
- Fumar na gravidez prejudica o bebê;
- Em gestantes, o cigarro provoca partos prematuros, o nascimento de crianças com peso abaixo do normal e facilidade de contrair asma;
- Crianças começam a fumar ao verem os adultos fumando;
- Nicotina é droga e causa dependência;
- Fumar causa impotência sexual;
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“Eu acreditava que o local que concentraria o maior número de bitucas seria os pontos de ônibus. No entanto, quando parei em frente ao hospital Marieta Konder Bornhausen, me deparei com uma quantidade assustadora de xepas. Uma ironia, considerando os riscos que o tabagismo, sabidamente, causa à saúde”.

“Numa cidade que tanto sofre com alagamentos por causa de esgotos entupidos, as pessoas ainda jogam sujeira nos bueiros. Encontrei várias bitucas nas bocas-de-lobo, provavelmente, porque quem as arremessou foi ruim de mira. Imagina, então, a quantidade dos que conseguiram arremessar e acertaram a xepa dentro do bueiro e não na rua”.

Itajaí não tem planos pra solucionar o problema

 

Muito antes de ser vereador, o presidente da câmara de Itajaí, Luiz Carlos Pissetti (DEM), já era fumante. Por 35 anos ele foi refém do cigarro. Há quatro meses se livrou do vício. Pissetti sabe bem os riscos e costumes do tabagismo e não vê uma forma de evitar que as pessoas sujem as calçadas com as xepas de cigarro. “Creio que não tem como fiscalizar. Qualquer meio pra apenar o fumante por jogar o filtro no chão é inviável”, comenta o presidente do legislativo. Ele garantiu que ainda não há nenhuma lei que aborde essa questão no município.
Pissetti reconhece que é preciso fazer algo pra diminuir a quantidade de bitucas jogadas pelas calçadas da cidade. Ele acredita que a única forma de brecar a sujeira é responsabilizando o fabricante do cigarro e, no nível regional, os estabelecimentos que revendem o produto. “Só assim pra ninguém vender mais, senão a situação fica incontrolável. Mas apenar os fabricantes foge da nossa competência. É preciso partir do nível federal”, explica o vereador. Na visão de Pissetti, a única solução que estaria ao alcance do legislativo municipal é fazer campanhas de conscientização pra que o povo evite sujar as ruas da cidade com os restos do cigarro.

Poluição miúda
Quem pensa que a bituca é só mais uma sujeirinha no chão, está enganado. Uma pesquisa da universidade de São Paulo (USP) mostra que duas xepas de cigarro produzem uma quantidade de poluição equivalente a de um litro de esgoto. A experiência foi feita pelos professores Aristides Almeida Rocha e Mário Albanese, nos laboratórios da faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. Eles analisaram a reação de 20 bitucas dentro de 10 litros de água. A partir do estudo, observaram a presença de micro-organismos como bactérias, protozoários e fungos e concluíram que, em contato com a água, os restos de cigarro produzem um sedimento tóxico.


No interior de São Paulo surge uma alternativa

 

“Nosso objetivo é trabalhar com um outro lado da história. Além da saúde, o cigarro também faz mal pro meio ambiente”

 

 

Os irmãos Sérgio e Marcos Poiato tiveram a ideia de criar uma empresa coletora de bitucas. Eles levaram a proposta pra 32 cidades de São Paulo. A secretaria de Meio Ambiente de Votorantim/SP embarcou na ideia. Há um mês, o projeto virou realidade no município do interior paulista, com pouco mais de 110 mil habitantes. Marcos conta que, nos primeiros 30 dias, eles recolheram 82 quilos de bituca – ou 36,8 mil unidades, que equivalem a 1830 maços de cigarro.
Além de recolher a sujeira dos fumantes através de caixas coletoras espalhadas em pontos estratégicos da cidade, a empresa dos irmãos Poiato pensou na destinação dessas bitucas. “Nós fechamos um contrato com uma empresa de Uberlândia/MG, que criou uma técnica de reaproveitamento das bitucas”, afirma Sérgio. Ele explicou que essa empresa mineira inventou uma técnica que tira os metais pesados dos restos de cigarro e depois mistura as xepas com um composto orgânico. O resultado é uma espécie de adubo que é aplicado na recuperação de áreas degradadas em vários pontos do país.
Ao invés de vender as bitucas pra empresa que faz o adubo, os irmãos Poiato têm de pagar pra que ela receba os restos de cigarro. “Nós firmamos um contrato com eles [a empresa mineira] e vamos pagar por tonelada enviada pra lá, fora o gasto do transporte, já que nossa cidade fica a 700 quilômetros de Uberlândia. Mesmo assim, não é um custo caro, perto do investimento no meio ambiente”, conta Marcos. Ele não quis revelar qual o valor pago pela cooperativa pro destino das bitucas, pois acredita que divulgar números torna o projeto muito comercial, tirando o valor social da iniciativa.
A empresa dos irmãos Poiato, que tem como única receita neste projeto o dinheiro pago pela pela secretaria de Votorantim, é pioneira no recolhimento exclusivo de bitucas de cigarro. Eles espalharam caixas coletoras pela cidade e depois fazem o recolhimento, a triagem e, por fim, armazenagem. A intenção é juntar as toneladas suficientes pra encher um caminhão e enviar pra Uberlândia. “Nosso objetivo é trabalhar com um outro lado da história. Além da saúde, o cigarro também faz mal pro meio ambiente”, ressalta Marcos.
Com o resultado já aparecendo no município de Votorantim, ele conta que outras cidades paulistas estão negociando pra que instalem o projeto.



Reportagem publicada em 04/04/11
No caderno "Especial" do jornal Diário do Litoral - DIARINHO

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