quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Reportagem em série sobre doação de órgãos (2)


Segundo dia:
A história de um doador de órgãos que sabia que morreria nas estradas
 

Paixão por carros e pela vida
Luciano Casali sabia que morreria na estrada e, apesar de ser doador, só teve os rins retirados

Luciano Casali, morador de Nova Trento, viajou por todo o Brasil de carro. Mas, foi perto de casa que ele sofreu o acidente em que perdeu a vida. No ano passado, depois de perder o controle do veículo na rodovia SC-411, Casali ficou internado por uma semana no Hospital Celso Ramos, na Capital. Aos 34 anos, não resistiu. “Ele sabia que morreria na estrada, pois adorava andar de carro. E sempre comentava que, se em um acidente sobrasse algo inteiro, era para doar”, recorda a comerciante Adriana Casali, 33, irmã de Luciano. 
A família atendeu ao último desejo do único filho homem. No entanto, Adriana diz que foram retirados apenas os rins do irmão. “Não sei se por qual motivo, mas o Luciano foi enterrado com vários órgãos intactos. As partes que poderiam salvar outras vidas agora apodrecem no túmulo”, afirma a comerciante. Dirigindo um Ômega, Luciano destruiu um ponto de ônibus durante a madrugada de 18 de abril de 2009. Pai de dois filhos, Casali era apaixonado por automóveis. Ele trabalhava com negociação de veículos, por isso viajava tanto.
Na carteira de identidade de todos os membros da família Casali consta: “não-doador de órgãos e tecido”. Porém, todos são assumidamente doadores. “Tenho um primo que é médico e nos disse para colocar que não doávamos por questão de segurança. O Luciano, por exemplo, estava sempre nas estradas. Então, tínhamos medo que ele sofresse um acidente em algum lugar do Brasil em que não pudéssemos participar da decisão da doação de órgãos”, explica Adriana. Ela diz se orgulhar da atitude do irmão e garante que o exemplo será seguido por todos os membros da família. “Não entendo como há pessoas que preferem enterrar o corpo a doar. É uma forma de fazer uma última boa ação”, questiona a irmã de Luciano Casali. Com a decisão da família, ele passou de vítima a doador.



Sem controle, motoristas andam à vontade na 411

Quando o Corpo de Bombeiros recebe um chamado de acidente na SC-411, já sabem que deve ser algo grave. Osnildo Olávio Porto, subtenente da corporação em Tijucas, diz que a gravidade dos impactos se justifica pelo desrespeito ao limite de velocidade. “Ao longo da rodovia, no trecho que vai de Tijucas a Nova Trento, só existem três lombadas eletrônicas. No resto do trajeto, os motoristas estão livres para acelerar”, destaca Porto. Ele diz que a proibição dos redutores de velocidade, conhecidos como pardais, facilita a falta de controle.
Segundo o subtenente, sempre que acontece um acidente na SC-411, os bombeiros encaminham as vítimas ao hospital mais próximo. Depois, cabe ao médico que atende decidir se o paciente deve ser transferido para outra cidade. “Nosso compromisso é garantir a vida do acidentado. Lamentamos quando a pessoa morre no local e não podemos fazer mais nada para salvá-la”, afirma Porto.

No total, 1.866 pessoas aguardam transplantes em Santa Catarina

68,32%
esperam por tecidos,
principalmente córneas

31,67%
precisam de órgãos sólidos
(coração, pulmão, fígado, rim
e pâncreas)



Amanhã coloco terceiro (e último) dia da reportagem!


Série publicada no fim de agosto do 2010 no jornal Notícias do Dia - Vale do Rio Tijucas e Costa Esmeralda. E publicada novamente no ND da Grande Florianópolis no início de setembro do mesmo ano.

Texto: Cláudio Eduardo
Fotos: Allex W. Farias



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