terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Memórias da bola de plástico e do punhado de balas de iogurte





Por Cláudio Eduardo

Dia desses, alguém encontrou uma foto de um evento de Natal daqueles onde o Papai Noel entrega bolas de plástico para um monte de crianças, junto de um punhado de balas de iogurte. E tinha um motivo para me mostrar a tal fotografia. No meio da fila gigantesca, tinha um gurizinho de uns sete anos, com cabelo bem penteado – indicando que se preparou para aquele acontecimento como quem vai para o primeiro dia de aula – e de chinelo surrado, umas Havaianas daquelas de sola branca e tira azul-claro que, como já tinha arrebentado, estava presa por um minúsculo prego, na parte debaixo da sola. Logicamente, isso não dava para ver na fotografia. Mas, passados quase 20 anos daquela tarde, ainda lembro-me da sandália. Sim, eu era aquele menino que nem se importava com a fila, com o calor ou com o chinelo velho. Só queria receber a bola de plástico – que, dias depois, iria furar num arame do pasto na frente de casa.
Mesmo hoje, com um pouco mais de habilidade no emprego das palavras, ainda é difícil justificar (ou explicar) a sensação de participar daqueles eventos. E as recordações da infância não vieram à tona apenas pela tal fotografia. Passadas quase duas décadas da época em que eu era uma das crianças que se alegravam com aquele gesto de solidariedade, volto ao mesmo cenário. Deparo-me com as mesmas crianças ansiosas pela chegada do Papai Noel para ganhar um ou mais presentes – hoje mais generosos do que a bola de plástico que eu ganhara naquele 1900 e antigamente. Desenferrujo aquela sensação... Como era possível ser feliz com tão pouco?
As recordações devem justificar o que sinto ao acompanhar novas entregas de brinquedos em eventos sociais. Fica difícil – ao menos para mim, um ex-guri-da-fila – não se emocionar. Pior ainda quando vou a locais onde sei que todas as crianças que estão lá sofreram (seja pelo abandono ou por maus-tratos). É o caso dos abrigos. Eu que nunca passei por nada parecido, pois, apesar da falta de dinheiro, tinha amor de sobra em casa, não me recordo de ter sorrido tão facilmente como eles sorriam com a chegada do bom velhinho. E minhas idas aos eventos sociais de Natal neste ano obedeciam (inconscientemente) a um roteiro: primeiro as recordações, depois a alegria, seguida da emoção... Por fim, na saída, o nó na garganta. Vontade de gritar por não ter como exigir que o mundo seja mais justo, ao menos com as crianças.

*Crônica publicada no caderno especial de Natal do jornal Diarinho (24/12/12)

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