Prédio do herbário
não vai mais ser tombado pelo município
Faltava apenas o prefeito assinar o decreto. Mas procurador
afirma que o conselho do Patrimônio voltou atrás do parecer e, agora, se
manifestou contrário ao tombamento
Por Cláudio Eduardo
Imagem: Google Street View
O prédio que abriga o herbário Barbosa Rodrigues fica a
poucos metros de edificações históricas que travam um duelo arquitetônico no centro
de Itajaí. E numa triste ironia à preservação do patrimônio, o prédio que é
vizinho da igreja matriz do Santíssimo Sacramento, do palácio Marcos Konder e
da, agora reformada, Casa da Cultura Dide Brandão, pode ser derrubado a
qualquer momento. O decreto de tombamento da sede do herbário, que só dependia
da assinatura do prefeito Jandir Bellini, não vai sair.
Em maio do ano passado, o DIARINHO publicou uma reportagem
em que o conselho municipal do Patrimônio Cultural anunciava que todo o
processo administrativo que culminaria no tombamento do prédio do herbário já
estava concluído. Faltava apenas a assinatura do prefeito para que o decreto
pudesse valer e, assim, garantir que a edificação não pudesse ser derrubada
para a construção de um edifício comercial no terreno.
Contudo, passado um ano e sete meses, o procurador do
município, Rogério Nassif Ribas, afirma que o decreto não foi assinado pelo
prefeito. “O conselho voltou atrás e deu parecer contrário ao tombamento,
porque o responsável pelo herbário teria dito que não tinha saúde para cuidar
disso. E eles atenderam o apelo”, justifica, substituindo os argumentos do
prefeito que, ontem à tarde, não atendeu a reportagem por estar numa viagem
internacional.
Contra a derrubada
O superintendente da fundação Genésio Miranda Lins, Antonio
Carlos Floriano, também é membro do conselho do Patrimônio Cultural. Ele conta
que não participou ativamente do processo que previa o tombamento do prédio do
herbário. Entretanto, diz ter presenciado muitas discussões nos últimos
encontros – sempre com a sede do herbário em pauta. “O conselho é a favor do
tombamento. Isso é unanimidade. Sempre que foi discutido entre os membros, foi
consenso que se preserve o prédio. Mas também entendemos que é preciso
conseguir meios de garantir recursos para a manutenção do herbário”, ressalta.
Hoje quem chega no prédio – que fica na avenida Marcos
Konder, no centro de Itajaí – observa, logo na entrada, uma placa que diz:
“essa entidade recebe verba pública: R$ 20 mil para manutenção do acervo
científico e cultural”. No entanto, não há como precisar se o valor é
suficiente e de quanto seria o repasse ideal, nas contas dos administradores do
local. Ontem a reportagem foi ao herbário, mas uma funcionária explicou que a
pessoa que responderia pelas questões administrativas não estava. E que, para
conversar com ela, era preciso agendar horário.
Por que derrubar?
Desde que se levantou a possibilidade da derrubada da sede
do herbário, foi ventilada a informação de que seria para a construção de um edifício
comercial no terreno – de localização privilegiada. Ontem a reportagem não
conseguiu mais detalhes sobre o projeto. Contudo, na matéria publicada em maio
do ano passado, se falava na construção de um edifício da Mendes Sibara. Na
época, o proprietário do empreendimento, Luiz Alves Mendes, falou que tudo
estava no campo das ideias. “Foi um interesse pessoal meu, no dia que visitei o
herbário e senti dó”, comentou. O plano dele era criar um projeto que
preservasse a história, o acervo e a arquitetura do prédio. E ainda destacou
que classificava o tombamento como um ato de retrocesso. “O herbário está
prestes a acabar. A cidade vai perder muito, pois eles não têm condições de se
manterem. As casas tombadas na nossa cidade viram cortiços”, sentenciou. Hoje
não há confirmação se é a Mendes Sibara que mantém interesse no terreno do
herbário.
Faz parte da história
Em 1942, com seis caixas de papelão com plantas e 15 livros,
o padre gaúcho Raulino Reitz iniciou o herbário Barbosa Rodrigues, em Itajaí. Quatro anos
depois, junto com outros entusiastas, ele criou oficialmente a entidade e
requisitou um terreno ao prefeito da época, Arno Bauer. O prédio que hoje
abriga mais de 70 mil exemplares de plantas foi finalizado em 1954. O nome do
herbário é uma homenagem ao botânico mineiro João Barbosa Rodrigues, que era um
especialista em orquídeas e palmeiras da Amazônia.
Já foi visitar?
Quem quiser conhecer o acervo do herbário precisa se
programar. Não basta aparecer no prédio para entrar. Em dias úteis, há
expediente interno das 13h às 19h. Contudo, só é aberto para visitação na
segunda-feira, das 14h às 17h. E é preciso agendar previamente pelo telefone
(47)3348-8725. Além disso, só é permitida a entrada de grupos com, no mínimo,
cinco pessoas, não podendo extrapolar 40 visitantes por vez.
Patrimônio histórico
em pauta!
A arquiteta urbanista Silvana Pitz participa do caderno
“Entrevistão” que sai na edição deste final de semana, no DIARINHO. No entanto,
a reportagem já antecipa um trecho do bate-papo. Silvana é membro do conselho
municipal do Patrimônio e diretora de estudos e projetos na fundação Cultural
de Itajaí.
DIARINHO – O prédio
do herbário Barbosa Rodrigues ainda não teve o decreto de tombamento assinado
pelo prefeito Jandir Bellini. Sem o decreto corre o risco de o herbário ser
derrubado e a iniciativa privada usar aquele terreno para a construção de um
edifício. Você teme que isso aconteça? Por que a demora para assinar o decreto?
Silvana – Eu temo
sim que isso aconteça, porque o herbário é muito significativo para a nossa
cidade. Ele é realmente um desses pontos que são marco fundamental para a nossa
cidade. O porquê da demora do decreto ser assinado eu realmente não sei.
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