sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Primeira reportagem de Abu Dhabi - parada da Volvo Ocean Race


Ver para crer... Depois escrever!

 


A beleza de Abu Dhabi é tanta que, por fotos, parece mentira que um deserto tenha se transformado nesta potência econômica mundial. A capital dos Emirados Árabes é o ponto de parada da Volvo Ocean Race da vez. E o DIARINHO está lá, do outro lado do mundo, conferindo de perto a grandeza do evento que vai chegar em Itajaí em abril.

“A etapa da Nova Zelândia pra Itajaí, realmente , é o ápice da volta ao mundo”, garante Joca Signorini, único brasileiro a competir nesta edição da Volvo Ocean Race

 

Por Cláudio Eduardo


 Numa mesma vila, a Volvo Ocean Race reúne pessoas das mais diferentes culturas, aparências e idiomas. Até o próximo sábado, a parada é Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes. Nessa torre de babel, depois de uns cumprimentos forçados num árabe aprendido em cartilha de hotel, umas enrolações num inglês enferrujado e umas conversas no já famoso jeitinho brasileiro de achar que domina o espanhol, enfim encontro um tupiniquim. Quando chego à vila, depois de passar por umas apresentações de homens e meninos vestidos de branco jogando lanças – ou algum objeto pontiagudo similar – percebo que o barco do Telefónica atraca no mar cor de esmeralda da capital árabe. Sigo para lá na tentativa de uma entrevista com o único representante do Brasil competindo na VOR: João Signorini, o Joca.
Para quem não conhece muito desse esporte e ainda não ouviu falar deste nome, Joca tem histórico nas regatas mundo afora. Para compor o time da Telefónica – equipe espanhola que está liderando a VOR – abriu mão de disputar os jogos olímpicos de Londres. No entanto, o currículo dele registra uma passagem pela disputa olímpica, apesar da medalha não ter vindo. Em Atenas, no ano de 2004, Joca foi o décimo colocado na classe Finn. Mas foi realmente na competição de longa distância que Joca consolidou seu nome no esporte marítimo. A convite do campeão olímpico Torben Grael, encarou o desafio de cruzar os mares na VOR. Primeiro no Brasil 1, depois no Ericsson, no qual foi sagrado campeão, na disputa que começou em 2008 e terminou no ano seguinte.


Entrevista com Joca Signorini, representante do Brasil na VOR



DIARINHO – O título de bicampeão está mais próximo? Tem chance da Telefónica perder esta liderança da VOR que parece tão consolidada?
Joca Signorini – Falta muito ainda. A regata é muito grande. A gente teve um bom começo, mas falta muito – estamos na segunda etapa de nove, sendo que ainda tem as regatas locais em todos os portos. A gente fez um trabalho muito bom de preparação e eu acho que temos velejado bem, temos dado sorte, porque as coisas têm dado certo pro nosso lado. Então continuamos confiantes no bom resultado. Mas outros barcos também estão velejando muito bem, o Camper tem sempre estado na nossa cola. Tem sido bem difícil. Sempre que conseguimos um bom resultado eles ficam em segundo. Por isso é muito importante manter essa constância, trabalhando duro no desenvolvimento do barco pra no final ver o que vai dar.

DIARINHO – E hoje qual o trecho mais difícil que vocês têm pela frente?
Joca – Cada etapa tem a sua característica, sua dificuldade e seu momento de glória. Esta próxima etapa é um pouco complicada. Toda essa situação por causa da pirataria acabou dividindo a etapa e a gente já começa aqui em Abu Dhabi disputando parte dos pontos, 20% dos pontos vão ser nesse sprint inicial. E o importante agora é o que já temos como objetivo, que é na regata local, na sexta-feira, se manter entre os três primeiros nesse sprint, porque sabemos que quando a regata tá curta, tudo pode acontecer. Todas as equipes têm bons tripulantes, bons barcos e eles podem conseguir bons resultados. E a partir daí continua complicado. Não vai ser um trecho muito fácil de velejar, mas as condições devem ser favoráveis ao nosso barco. Acreditamos muito no contra-vento. A gente gosta de ir nessa condição em relação aos outros barcos e nessa próxima etapa temos bastante contra-vento.

DIARINHO – Numa prova como a VOR, qual a maior dificuldade: a preparação física ou as condições climáticas?
Joca – Acho que o conjunto de tudo. É uma regata muito dura, muito longa e você tem que estar bem preparado psicologicamente, fisicamente e o barco também tem que estar bem preparado, porque um pequeno detalhe muda tudo. A gente viu, por exemplo, o Abu Dhabi venceu a regata local em Alicante, na Espanha, e depois, logo na primeira noite, quebrou o mastro. O pessoal mesmo do Abu Dhabi falou que se vai de herói à nada em muito pouco tempo. Acho que a gente tenta manter sempre o ritmo e o desenvolvimento do barco, além de coisas que tentamos fazer pra manter o desempenho e a segurança no barco. Quanto a isso tem que se ir, pouco a pouco, fazendo o dever de casa e quem sabe conseguimos a vitória.

DIARINHO – E a expectativa quanto à parada no Brasil, algum recado para o povo de Itajaí?
Joca – Pessoal de Itajaí, muito obrigado por toda a torcida, todo o apoio. Nós do Telefónica estamos bastante ansiosos pela chegada. A etapa da Nova Zelândia pra Itajaí, realmente é o ápice da volta ao mundo, já que a gente cruza o temido e tão falado cabo Horn. E chegar em Itajaí vai ser uma emoção muito grande pra todo mundo, e especialmente pra mim, que sou brasileiro. Itajaí vai viver alguns dias bastante intensos. Na Volvo Ocean Race os barcos realmente são impressionantes. Dificilmente você encontra barcos como esses em marinas de qualquer lugar do mundo e ter a oportunidade de trazer a regata, os barcos e os velejadores pro Brasil é realmente incrível. Estou bastante satisfeito da regata continuar fazendo parte do calendário brasileiro. E a gente espera bastante festa em Itajaí, porque a recepção é sempre bem calorosa. Com certeza o pessoal do Telefónica espera que a torcida brasileira esteja com a gente.


Líder da Camper promete ultrapassar Telefónica até a etapa de Itajaí

 

 

 

Neil Cox assumiu realmente a bandeira de principal time pra derrubar a equipe espanhola

Joca Signorini reconheceu a Camper como principal adversária do Telefónica na luta pelo título da Volvo Ocean Race. E um dos líderes da equipe que só fica em terra, Neil Cox, não se fez de rogado e assumiu realmente a bandeira de principal time pra derrubar a equipe espanhola que tem levado a melhor na maioria das etapas da regata. Mesmo que os membros das duas equipes não confirmassem, a tabela já demonstra que Telefónica e Camper já travam, mesmo que adiantado, uma batalha pelo campeonato. Hoje os espanhóis (onde o único brasileiro da prova compete) lideram a VOR com 66 pontos. Mas a Camper vem logo atrás, com 58 pontos.
E ontem a reportagem do DIARINHO teve acesso ao barco da Nova Zelândia. Primeiramente deu pra ter melhor noção de como é sofrido o trabalho dos atletas marítimos nessa competição de trajeto longo e complicado. Dentro do barco – fora os solavancos que ficam por conta do oceano – os velejadores se ajeitam num espaço que, além de muito quente (ao menos enquanto está atracado), é extremamente úmido.
Durante a apresentação do barco, Neil Cox não revelou muita coisa quanto à estratégia da equipe, mas adiantou o objetivo: chegar ao Brasil já como líder da VOR. “A nossa estratégia muda de acordo com as condições climáticas, chuva e vento”, comenta com discrição um dos líderes da Camper. Questionado sobre a possibilidade do time pular para o topo da tabela, nem pensou muito antes de responder. “Claro que sim, não é só possível como vamos ultrapassar o Telefónica. Em Itajaí já devemos ter passado eles”, afirma, numa declaração de guerra ao barco espanhol – por vezes brasileiro.



Reportagem publicada no DIARINHO na edição de 12 de janeiro de 2012

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