Candidato de mentira flagra eleitor que vende o voto em
Itajaí
“Quem me ajudar, eu ajudo”, disse o eleitor, que já admitiu ter ganho um poste de uma candidata, mas que estava disposto a mudar o voto por uma carrada de barro
Por Cláudio Eduardo
claudio@diarinho.com.br
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Para olhar este assunto de um prisma diferente, o DIARINHO
criou um candidato falso para – misturado aos 267 candidatos a vereador devidamente
registrados em Itajaí – ir às ruas pedir votos. Devidamente munida com material
de campanha, a equipe escolheu uma via na região da Fazendinha para abordar
possíveis eleitores. E numa saída de apenas 10 minutos, encontrou três casos
bem distintos e que demonstram as diferentes posturas do eleitor, que não é
algo exclusivo de Itajaí. Se algum candidato ler esta reportagem, vai pensar: “isso
não é nada! Já vi coisa muito mais emblemática”. E com certeza deve mesmo ter
visto.
Na primeira abordagem, parecia que a tão repetida tese de
que o eleitor se corrompe iria cair. O “eleitor 1” olhou as propostas expostas
no santinho. Foi além. Demonstrou curiosidade sobre o partido (o PMN – Partido
do Movimento Social – inventado pela reportagem para não se apropriar de sigla
já existente) e ainda questionou o fato do candidato não ter apresentado
coligação apoiando algum dos três prefeituráveis do município. Numa investida da
equipe para saber se ele queria algo, comentou o que o bairro precisava:
segurança e atenção aos problemas de trânsito. E resistiu mesmo quando a
pergunta foi mais direta: “o senhor ou alguém da sua família não precisa de
nada?”. Foi exemplar.
Na segunda casa, a equipe disfarçada foi atendida por um
senhor que estava trabalhando. Ele recebeu p material, ouviu o pedido de voto e
apenas informou que morava havia pouco tempo na região e, portanto, não votava
em Itajaí. Contudo, revelou que o domicílio eleitoral dos três filhos e da
esposa era no município. Pediu que o candidato passasse outra hora para
conversar com a família. Questionado sobre a possibilidade de colocar placas na
frente da casa ou de botar adesivos no carro, disse que não faria isso porque
trabalhava em algo ligado ao público e não gostaria de demonstrar compromisso
com nenhum político para não espantar os clientes.
Metros depois, um homem que trabalhava na frente de uma
residência – o “eleitor 2” – não demorou muito para soltar um “quem me ajudar,
eu ajudo!”. E abriu no diálogo a brecha para dizer o que queria em troca do
voto. Ele afirmou que já havia ganho um poste de outra candidata. Mas reforçou
que o voto era secreto e, portanto, estava disposto a não ser fiel à pessoa que
já o tinha pago. Só que, para isso, também tinha um preço: queria uma carrada
de barro. Além disso, informou que tinha um vizinho que também precisava de um
poste. Seria mais um voto que garantiria ao aspirante de parlamentar.
Entretanto, nem o “eleitor 2” e nem o vizinho ganharam algo do falso candidato
– que também não iria ganhar o voto. Sem contrapartida, nada feito!
Material feito em menos de meia hora
Tão rápido quanto os 10 minutos da saída para ouvir os três
eleitores foi a preparação do material de campanha. Em menos de meia hora deu
tempo do fotógrafo fazer o clique do falso candidato; do arte finalista do
DIARINHO criar o logotipo do partido e produzir o santinho; e, neste processo,
o mais rápido foi a criação das propostas da coligação – também inventada –
“Mais, melhor e para todos”.
Da mesma forma que muitos candidatos fazem ao se lançar na
campanha, a reportagem ficou nas generalidades. Porque ver se algo é viável se,
para o momento, só o que quer é impressionar o eleitor e conquistar o voto?
Propostas com verbos “lutar”, “apoiar” e “fiscalizar” parecem fortalecer o
material – mesmo que, na prática, a luta e o apoio não possam ser medidos e a
fiscalização seja uma obrigação. E há ainda o “criar”. Que, no caso específico
do candidato do DIARINHO, se apropriou de um assunto que esteve recentemente na
mídia para incrementar no discurso político: as capivaras no Saco da Fazenda,
com a promessa de criar uma área de proteção aos roedores.
Como o candidato não existe, as propostas não vão sair do
papel. Não se depender da eleição dele. Contudo, se algum dos políticos da
região se interessar, pode sim se apropriar de qualquer uma das ideias. Só não
pode se apoderar se for apenas para ludibriar o eleitor. Disto, o povo já está
cheio.
Olhou, questionou e ficou de analisar as propostas
Assessoria: O que o bairro tá precisando?
Eleitor 1: Sempre precisa de alguma melhoria, né?
Assessora: Mas tem alguma coisa específica que vocês estão precisando, que não estão sendo ouvidos?
Eleitor 1: Acho que o principal, e que todo mundo pede, é a segurança. O bairro aqui é calmo, mas pensando no geral. E o trânsito, que é problema de anos, e não é só problema de Itajaí. É de Balneário também.
(...)
(...)
Eleitor 1: Mas esse partido veio de onde?
Candidato: De jovens. Tanto que estamos com poucos candidatos... Formado por jovens, com propostas novas.
Assessora: Pra dar uma nova cara pra política.
Candidato: Justamente agora que estamos com 21 vagas sendo disputadas, então estamos com esperança de que pelo menos um suba. Por isso a gente está com chapa pura, para tentar imprimir...Por isso que a gente não tá apoiando nenhum prefeito. Que aí, independente de quem ganha, a gente vai lá pra fiscalizar. Pra não ter rabo preso com nenhuma chapa.
Eleitor 1: Sim, claro.
(...)
Assessora: E pra tua família, tem algo que tu precise? Alguma coisa que a gente possa te ajudar pra ti ajudar o candidato?
Eleitor 1: Não. A princípio tá tudo dentro dos conformes. Não tá tudo, mas dá pra levar. Eu entendo a situação de vocês que são de partido novo... Mas é isso aí. O que vocês estão fazendo é certo: não ter coligação, rabo preso pra poder chegar lá e bater de frente.
Candidato: É a melhor coisa. Senão, chega lá, fica amarrado e não faz nada.
Até vota...
Mas se ganhar pelo menos uma carrada de barro do candidato
Assessora: Olá, boa tarde. Queria apresentar aqui o nosso candidato.
Candidato: O senhor mora aqui mesmo?
Eleitor 2: Moro nos Cordeiros.
Assessora: E o senhor já tem candidato?
Eleitor 2: Já. Já tenho porque me ajudou a colocar luz, né! Ajudou a colocar o poste lá.
Assessora: Mas o que mais o senhor tá precisando? Não é só de luz que o senhor precisa..
Candidato: E a família, tá toda decidida? Não tem nenhum votinho sobrando?
Eleitor 2: Dai eu não sei.
Candidato: e não tem mais nada lá que está precisando? Eu tô precisando desse voto, agora eu quero saber o que o senhor tá precisando.
Eleitor 2: Tem um cara lá que tá precisando pra colocar a luz que cortaram, porque o relógio dele tá estourado.
Assessora: E o teu também?
Eleitor 2: O meu eu consegui botar.
Assessora: Tu falou que o candidato ajudou, né? No que ele ajudou?
Eleitor 2: Ela ajudou a colocar a luz, porque era área invadida, né? Aí eu consegui botar luz. Aí ela fez um papel lá, um cadastro.
Assessora: E o que tu precisa, além de luz, que a gente possa te ajudar? Porque tua família é grande, sempre dá pra dividir o voto.
Eleitor 2: Foi o que eu falei: quem me ajudar, eu ajudo"
Candidato: E o que tás precisando?
Eleitor 2: Barro. Porque lá, quando dá maré, enche. sabe que o voto é secreto, né?
Candidato: E quanto de barro precisaria?
Eleitor 2: Uma carrada.
Assessora: E com uma carrada o senhor consegue quantos votos pra gente?
Eleitor 2: Sabe que o voto é secreto, né cara? Se me ajudar... Eu falei pra votar, mas, me ajudando...
Só para refletir!
A reportagem não quis expor ninguém e nem atrapalhar o
eleitor no processo de escolha. Portanto, as três pessoas que receberam o
santinho do falso candidato foram avisadas por telefone que se tratava de uma
reportagem e que o político era, na verdade, um jornalista do DIARINHO.